Quando falei da participação da família Assumpção no turfe, basicamente em São Paulo, fiz justa menção à também tradicional família Lara. Essa me parece que foi a que brilhou mais, após o glorioso inicio de Antenor Lara Campos, com a sua tradicional blusa toda lilás. A grosso modo pode-se separar, com atividades turfísticas paralelas, o importantíssimo Haras Faxina de Henrique Toledo Lara, dos dois irmãos Paulo Lara e Theotônio Piza de Lara, além do posterior surgimento do vitoriosíssimo Haras Malurica de Ricardo Lara Vidigal. Paulo Lara era um fazendeiro do interior do Brasil, viajava habitualmente para gerenciar de perto os seus investimentos, e quando em São Paulo, em seus momentos de lazer, costumava jogar bilhar ou sinuca na antiga sede social do JCSP no centro da cidade, e acompanhar o seu Stud em Cidade Jardim, que corria com a blusa lilás. Entre os muito bons ganhadores importantes de Paulo Lara, podem ser destacados Leigo e Garça, essa uma tordilha maravilhosa, milheira por excelência, que marcou a sua passagem nas pistas com atrevidas vitórias importantes. O irmão de Paulo era o Theotônio, campeão de hipismo, que em certa época saltava com um nacional grande campeão, um puro sangue de corridas, desviado das pistas por ser muito chiador. Esse excelente saltador, de nome Xirás, diziam que era filho de Helium, um argentino filho de Hunter´s Moon que foi ótimo corredor e também pai de sucesso. Helium venceu o G.P Brasil.
Aliás, a família Lara sempre brilhou no turfe, desde os primórdios com ótimos corredores, dentre eles merecendo menção especial ao tordilho Sargento, brilhante nas pistas e no Haras . Antenor Lara Campos foi um marco no início das lides turfísticas. Mais tarde, já fora da época de Antenor, de Paulo e Theotônio, surgiu o Haras Malurica, mistura dos nomes de Malu, mãe dos filhos de Ricardo Lara Vidigal, e de Rica, Ricardo. Foi um Haras de criação impressionante. O plantel de éguas era apenas regular, não se comparava com os dos bons criadores que enfrentava, seus garanhões não eram ótimos, com a exceção de Major´s Dilema, comprado do Haras Terra Branca de Alberto Marchioni. O Malurica marcou época, ganhou muito, e foi até 3º no Pellegrini com Kenético(foto), quando dos três primeiros colocados brasileiros, Immensity (A.Bolino), Kigrandi (J.Garcia) e Kenético.
Foi uma pena o encerramento das atividades do Haras Malurica com a morte de Ricardo. Os produtos do Malurica, mesmo os vendidos, tinham muito boa constituição física e corriam muito. Havia quem tentasse explicar o grande sucesso do Ricardo, alegando que ele tinha uma irmã técnica em nutrição, mas o enorme sucesso ultrapassava de muito, aparentemente, os limites de uma boa nutrição. Com Antenor e Ricardo, o grande nome dos Lara parece ter sido o “Seu Henrique”, o marido de D. Margarida Polak Lara(foto), com as suas cores preto e ouro e em listas horizontais. Em todas as gerações despontavam líderes, como Bonitão, Calouro, e mais para cá entre outros Queridona, Off the Way e Narvik. De gênio difícil, mas no fundo uma ótima pessoa, Henrique de Toledo Lara era um dos poucos criadores respeitado pelo maior de todos, José Paulino Nogueira.
De vez em quando, parcerias turfísticas se desfazem, por envelhecimento dos sócios, por mortes ou outros fatores. Um dos mais curiosos foi a separação dos Haras Jahú e Rio das Pedras. Inicialmente só havia o Jahú, lá pelos lados de Osasco. O Dr. João Adhemar lá não ia nunca, o Haras era freqüentado um dia por semana pelo irmão Nelson. João Adhemar e Nelson de Almeida Prado eram ótimos irmãos, tinham tudo em sociedade meio a meio, menos a casa onde Nelson morava no Morumbi com a mulher Guanayra e o apartamento em Higienópolis onde morava o Dr. Adhemar com a mulher Esther. O Banco de São Paulo, forte instituição bancária fundada pelo pai Vicente de Almeida Prado, assim como todo o patrimônio inclusive os cavalos, eram meio a meio dos dois irmãos. A sede do Jahú era uma das casas de colonos, melhorada, que servia como escritório. Esse era o estilo de Nelson, competente mas sóbrio. Ele estudara a arte de ser banqueiro em especial curso na Alemanha, e o Banco de São Paulo era forte, e bem administrado, sob a mão firme e forte e competente de Nelson. João Adhemar era o Presidente, o homem de negócios gostava de trabalhar e também de viver, e um dia comprou uma maravilhosa área em Paulínia, perto de Campinas, e implantou um Haras em que pudesse passar os seus sábados, em uma sede com muito conforto e na qual podia receber amigos. Em um desastre de avião, indo de São Paulo para a cidade de Araçatuba, onde Nelson tinha uma enorme propriedade rural, Nelson morreu, e assim chegou a hora da separação total dos bens dos dois irmãos. Com a sua habitual bondade e fidalguia, o Dr. Adhemar cedeu à D. Guanayra tudo aquilo que ela tinha direito, e foi tudo naturalmente feito sem dificuldades e com acompanhamento de confiáveis advogados. Mas havia que serem separados os animais. Ficou combinado que seriam preparadas várias relações, das éguas cheias, das vazias, dos produtos em fase de criação, dos garanhões, dos corredores. Alternadamente, o Dr. Adhemar e a D.Guanayra, por sorteio inicial, teria a prioridade de escolha. Mas na prática, não foi isso que aconteceu. Sempre que não era ela a primeira, a D. Guanayra apelava para o Dr. Adhemar ceder a ela a primazia, alegando amores do falecido Nelson a alguma coisa. Na relação dos garanhões, a primeira escolha por sorteio era do Dr. Adhemar, mas a D. Guanayra ficou desesperada, havia um garanhão pretenso melhor que ela alegou que era o animal que o falecido marido mais gostava. Como sempre e em todas às vezes, o Dr. Adhemar cedeu, e o Jahú ficou com o depois fracassado Rhone, um filho de Coaraze, e o Dr. Adhemar teve que ficar com o bom chileno Figuron. Em todas as relações, com apelos da D. Guanayra e a concordância bondosa do Dr. Adhemar, a D. Guanayra foi sempre a primeira a escolher, inclusive ficando com a gloriosa blusa cinza e verde em listas horizontais (foto abaixo). Um ano depois, o lado Jahú, o da D. Guanayra, amargava um quase total fracasso, e o Rio das Pedras, do Dr. Adhemar, um sucesso indiscutível.