Como reflexo da geral má administração em nosso país, quando os Governos Federal, Estaduais e Municipais mostram-se carentes de gente honesta e competente, todas as classes sociais estão sofrendo. A consequência se vê em todas as partes, em todos os setores. O turfe não é exceção. Já de algum tempo, talvez cerca de doze anos, anualmente cai o número de reprodutoras em nosso país, e em consequência o número de produtos. Quando se chegou a 3 mil, imaginava-se que era possível uma parada no declínio, mas o que aconteceu foi que perdurou e ainda perdura a queda numérica, e hoje estamos chegando a cerca de 2 mil potros/ano. Os frequentes leilões mostram-se cada vez mais fracos, com honrosas exceções, é claro, mas a situação mostra um desânimo geral. O desânimo não é total, mas é geral. E o curioso é que, com exceção do Jockey Club de São Paulo, que sem dúvidas está sendo perseguido pelo Governo Municipal, que deve muito e não paga nada, os outros três clubes importantes estão em ascensão. O do Rio Grande do Sul vem excedendo expectativas, o do Paraná ressuscitou brilhantemente, e o do Rio de Janeiro mantém uma performance consistente em indiscutível liderança nacional, e está às portas de um especial aumento do seu movimento geral de apostas a partir do meio do presente ano com a entrada em ação no próximo mês de fevereiro da francesa PMU. Nem sempre para muitos a vida é estável, para muitos ela é cíclica, isto é, há períodos de bons e também de maus ventos. No caso presente, a gente do turfe, principalmente os criadores, parece que vão preferir esperar para crer. Isto é natural, mas aqueles que ficarem aguardando vão chegar atrasados aos bons tempos que aqueles que já perceberam o que deve vir por aí.
Falei em momentos bons e ruins, melhores e piores, e é o que se verifica até nos moldes da criação. Se como uma lembrança dos anos 20 para cá. Com a idade de um ano, os potros eram separados das potrancas, os machos iam para piquetes individuais e as fêmeas juntas em um piquete grande. Essa conduta tinha por objetivo diminuir os naturais riscos, já que à medida que crescem e ficam mais fortes as brincadeiras ficam mais violentas e agressivas. Potros e potrancas dormiam fechados em seus boxes. Hoje em dia e já de algum tempo, é dada mais importância à característica nômade da raça, dando aqueles que sendo criados um máximo de soltura e espaço. Outra modificação importante deu-se no tocante à utilização dos garanhões. O Haras Mondesir (foto), por exemplo, quando não dispunha de mais lugar para a utilização dos seus melhores corredores, colocava-os à venda e com ótimos resultados. Entre muitos outros exemplos, Xaveco foi para o Haras Patente, onde foi ótimo pai clássico. Xadrez no Ipiranga é outro exemplo, foi avô materno de importantes ganhadores de Grupo I, inclusive de ganhador do Grande Premio Brasil. Já os Haras São José e Expedictus, o mais tradicional de todos que cumpriu 100 anos de produção, não vendia ótimos ganhadores em perspectivas. O São José ficava no Município de Rio Claro, no interior paulista perto de Limeira, Santa Gertrudes, etc. Lá ficavam as melhores éguas, enquanto no Expedictus, no Município de Botucatu, ficavam os considerados menos bons. A maioria dos produtos oferecidos anualmente em leilões saiam de Botucatu. Há dois casos curiosos que mostram a filosofia quanto aos garanhões. Em Botucatu havia um grande número de boxes, onde moravam os cavalos bons corredores mas que não eram utilizados pois era entendido que havia melhores. O Dr. Adayr Eiras de Araújo, médico gaúcho muito amigo do proprietário do Haras Chapéu de Sol, conseguiu emprestado o cavalo Svengali, muito bom corredor. Logo em sua primeira geração Svengali mostrou-se excelente, dando ótimos filhos. Foi o suficiente para Svengali voltar para Botucatu, sem nunca mais ser aproveitado. Outro caso foi o de Devon. Maior candidato a ganhar o Grande Premio Brasil do ano, teve sério contratempo e foi para Botucatu. O então Presidente da Associação Brasileira , Luiz (Zizo) Vieira de Carvalho Mesquita, entendeu de comprar o cavalo para a Associação, que o colocaria no Posto de Monta de Campinas com venda de coberturas a preços simbólicos para os sócios da Associação. Havia na Associação uma caixa de dinheiro que engordava a cada ano, específica para a compra de um garanhão. Na época o montante era de 200, bom valor para a época. A oferta de 200 foi recusada, o preço era 400. Não houve negócio, a Associação Brasileira não dispunha de mais. O destino de Devon como reprodutor foi acompanhado pelos registros de coberturas do Stud Book Brasileiro. No primeiro ano, recebeu 2 éguas, no segundo uma só e nada nunca mais. Hoje em dia, decorridos tantos anos, os Haras grandes encontram grandes dificuldades em colocar os seus bons corredores quando eles encerram as campanhas nas pistas, pois o medo generalizado dos criadores menores, e também dos maiores por que não dizer, da política administrativa de nosso país, em lugar de “menos pobres”, incentivando aqueles que tem recursos em investimentos e lucros, a bandeira é de “menos ricos”, isto é, taxar e cobrar cada vez mais dos que tem recursos, para dar de graça aos que não tem, incentivando o não fazer nada. Esse absurdo é fácil de ser entendido. Quem tem primeiro alimenta o seu próprio filho, e depois os filhos dos outros. Se o que ele tem é diminuído, é claro que o próprio filho continuará a ser atendido, e os outros só se sobrar.
Essa é uma das leis da vida, a todos devem ser dadas as possíveis boas oportunidades, essa é a regra, e não tirar de quem tem e dar aos que não tem. Aqueles que necessitam de ajuda devem ser ajudados, e não é provocando demissões em massa que os graves problemas vão ser resolvidos.
Enquanto as inadequadas diretrizes se multiplicam, os criadores vão diminuindo os seus plantéis, cada vez menos reprodutoras e em consequência menos potros.
Outro dia um criador paranaense me perguntou se eu teria coragem de recomeçar tudo de novo, nas condições atuais. Eu disse que sim, tem-se que andar de pés no chão, mas olhando para o futuro. Piorar a situação não vai, e melhorar é provável, pois três dos quatro clubes maiores estão em ascensão, e o outro, o JCSP, tem que receber do Município o muito que lhe é devido.
Se nós não acreditarmos nisso, então é arrumar as malas e ir morar em outro lugar.