Treinador com o maior número de vitórias do turfe carioca, Alcides Morales é o convidado desta semana na coluna de entrevista do site do Jockey Club Brasileiro.
Como entrou para o mundo do turfe?
AM: Entrei sozinho (risos). Com oito anos vinha para a Vila Hípica, ajudar o Gonçalino Feijó em sua cocheira. Ajudava a lavar os cavalos, colocava até um banquinho para poder escová-los. Depois virei cavalariço, redeador, segundo-gerente e entrei para a Escola de Treinadores.
O que ser um treinador de cavalos representa para você?
AM: Tenho uma paixão enorme pelos cavalos de corrida e pela minha profissão. Ser treinador de cavalos de corridas me enaltece. Não saberia viver sem esse convívio diário com os animais, com os meus colegas, com os proprietários. Em todos esses anos, fiz muitos amigos no turfe e tenho bastante orgulho disso.
Quais são melhores cavalos/éguas que já viu correr?
AM: Tive a oportunidade de ver muitos cavalos de qualidade. Mas teve um que me marcou, o Yatasto, um animal incrível. Lembro que ele foi correr uma vez em Cidade Jardim e, mesmo muito sentido, nitidamente com dor, fez uma ótima corrida no GP São Paulo.
Cavalo/égua mais bonito que já viu?
AM: Talvez tenha sido o Mensageiro Alado. O Bowling era um tordilho lindo. Lembro-me de outro animal belíssimo, bom porte, bem aprumado, seu nome era Engano, de propriedade do Dr. Adayr Eiras. Em carreira, fez jus ao nome, pois era muito bonito, mas corria pouco.
Melhor animal que já treinou?
AM: Treinei muitos animais de qualidade. Bat Masterson, Bowling, Anilité, Anis, enfim, foram muitos. Nessa época eu era o responsável pelos animais do Haras Santa do Rio Grande, que criava muitos craques. Teve um que eu tinha um carinho muito especial, o Astro Grande. Perdeu o “São Paulo” por cabeça. Tenho boas lembranças também da Grey Girl, égua que pertencia ao Dr. Nova Monteiro. Com ela, venci minha primeira prova clássica.
Quais os melhores jóqueis que já viu montar?
AM: O Rigoni era fantástico. Juvenal, Ricardinho, Juan Pedro Ortiga, os chilenos: Castillo, Marchant, Ulloa e Negro Diaz, todos esses foram excecionais.
Quais os melhores treinadores em sua opinião?
AM: O meu grande professor foi o Gonçalino, como já havia dito antes. O “seu Freitas” (Ernani de Freitas) também me ensinou muito. Hoje em dia temos ótimos profissionais, gostaria de não citar nomes, para não ser injusto com alguém. Mas, da nova geração, vamos dizer assim, gosto muito do Cristiano Oliveira. Vejo um excelente futuro nesse garoto.
Melhores garanhões da história do turfe brasileiro?
AM: Até por meu histórico com seus filhos, o Waldmeister. Nos anos dourados do Haras Santa Ana do Rio Grande, um filho de Waldmeister em uma mãe filha do St.Chad, não tinha erro.
Seu momento inesquecível no turfe?
AM: A vitória de Anilité no Grande Prêmio Brasil. Ela vinha de um fracasso em São Paulo, mas ganhou o GP 16 de Julho e em seguida o Brasil.
Falta alguma conquista?
AM: Estou perto das 3.000 vitórias. O que eu quero é seguir treinando meus cavalinhos, com saúde, pois isso é o que realmente importa.
Qual conselho daria para um treinador que está começando agora?
AM: Tem que ter muita percepção, carinho com o animal, observar os bons treinadores e não ser “dono da verdade”. Como dizem, a vida é um eterno aprendizado e eu, com meus 83 anos, sigo aprendendo diariamente.
Por Celson Afonso – Fotos: Arquivo JCB