Um dos veterinários brasileiros mais respeitados em sua área, Flávio Geo é o convidado especial da coluna de entrevistas do site do Jockey Club Brasileiro, Papo de Turfe.
Como o turfe entrou em sua vida?
FG: Iniciei no turfe em 1979, com o Dr. José Roberto Taranto, a quem devo muito do que consegui. Estava no terceiro ano de faculdade quando a UFRRJ (Universidade Rural) entrou em greve por um período de sete meses. Então o Dr. Taranto foi para um Congresso na Florida e acabei acompanhando-o para ajudá-lo em relação ao inglês. Fui de “carona” 17 dias antes, em um Cargueiro da Frota Oceânica, do Dr. Fragoso Pires. Terminei ficando na Florida/Gainesville, estudando e fazendo estágio por um ano em Nutrição, Anestesia e Cardiologia Equina. Quando voltei para o Brasil, me transferi para a UFF (Universidade Fluminense) e me formei um ano meio depois. Em seguida, comecei a trabalhar como assistente do Dr. Taranto.
O que as corridas de cavalos representam para você?
FG: Gosto muito de animais e desde pequeno sempre quis ser veterinário. Adoro os cavalos e tenho muito respeito por eles. Gosto muito do que faço e trabalhar com os cavalos de corrida é um aprendizado diário, pois eles são incrivelmente diferentes entre eles. Os desafios são constantes e isto é o que nos move neste meio.
Como é ser um veterinário no mundo do turfe?
FG: Difícil, muito difícil. Uma vez ouvi uma frase de um grande criador de P.S.I.: “Ciúme de homem é pior que ciúme de mulher…” No mundo do turfe, o mais fácil é lidar com os cavalos.
Quais são melhores cavalos/éguas que já viu correr?
FG: Tive a chance de ver vários cavalos de alto nível, mas o Itajara foi demais.
Cavalo/égua mais bonito que já viu?
FG: Sem sombra de duvidas foi o Secretariat.
Melhor animal que já cuidou como veterinário?
FG: Much Better foi o cavalo do meu coração. Foi operado por mim duas vezes e fez uma belíssima campanha. Tive a sorte de cuidar de muitos cavalos bons. Fui veterinário de cinco ganhadores do GP São Paulo (G1): Troyanos, Much Better, MacBeth, Jeune-Turc e Sal Grosso; seis campeões do GP Brasil (G1): Troyanos , Village King (duas vezes), Much Better, Vellodrome e Jeune Turc, além de ter cuidado de dois Tríplices Coroados: Super Power e Old Tune.
Quais jóqueis fazem a diferença?
FG: Tive a felicidade de trabalhar diretamente com verdadeiros campeões, como Jorge Ricardo, Juvenal Machado da Silva, Carlos Lavor, Tiago Josué Pereira, Luiz Duarte, Marcelo Cardoso, Dalto Duarte, entre outros.
Quais os melhores treinadores em sua opinião?
FG: Tenho muito respeito por vários treinadores. Tive a honra de trabalhar diretamente com João Luiz Maciel, Francisco Saraiva, Alcides e Sylvio Morales, Wilson Lavor, Idelfonso Souza, Gladson Figueiredo Santos, Cosminho Morgado, Dulcino Guignoni e principalmente com o meu amigo Venâncio Nahid.
Melhores garanhões da atualidade no turfe nacional?
FG: Tenho uma admiração grande pelo Wild Event, Vettori e Crimson Tide.
Melhores garanhões da história do turfe brasileiro?
FG: Da minha época, Waldmeister, Ghadeer, Present the Colors e Royal Academy.
Seu momento inesquecível no turfe?
FG: Ganhar o Pellegrini e o Latinoamericano na Argentina foi o máximo, acompanhar o Much Better no Arco do Triunfo, o First American no Kentucky Derby (entrar na raia ao lado dele na hora do cânter), estar presente na leitura do envelope do Eclipse Award do Leroidesanimaux e ver o Bob Frankel chorar. São momentos inesquecíveis, que não têm preço!
Algum páreo marcante?
FG: Tenho sim, mas foi uma derrota! Serve? Sem dúvida foi o Latinoamericano onde que fomos “roubados” com o Sal Grosso e o Luís Duarte no Chile. Uma vergonha, o jóquei da égua chilena nem ao menos bateu o peso.
Qual foi sua maior tristeza com cavalos?
FG: Foi perder um cavalo chamado Halley Boy do Dr. Jael B. Barros. O animal fraturou o osso Umero no GP Major Suckow (G1) e ficou comigo no Hospital Octavio Dupont por mais de três meses, “pendurado” em um brete. Quando já estava praticamente curado, escorregou, quebrou o osso Radio e foi sacrificado. Foi uma grande perda.
O que espera do turfe brasileiro nos próximos anos?
FG: Acho que vai melhorar muito. Espero que novas ideias sejam colocadas em prática, visando à melhora do turfe brasileiro em geral. Gostaria de sugerir que criassem uma comissão especializada para estudar o problema existente atualmente no antidoping em todo o Brasil. Novas máquinas em uso não permitem mais que vários medicamentos sejam utilizados nos cavalos de corrida. A sensibilidade delas é absurda, podendo detectar medicamentos utilizados 15, 30 e até 50 dias antes da corrida. Torna-se cada dia mais difícil trabalhar com certas drogas, pois o risco de serem detectadas no exame antidoping é muito grande. Vale salientar que no dia da corrida estes animais não estão sobre a ação da droga, mas podem apresentar um exame positivo.
O que você diria para um novo veterinário que está começando a trabalhar com cavalos de corrida?
FG: Simples, é o que digo aos meus filhos sempre. Escolham aquilo que vocês gostem de fazer, pois assim vocês não vão precisar “trabalhar”. Depois de escolhido, é só estudar muito, praticar e não parar nunca de aprender.
Por Celson Afonso – Fotos: Arquivo JCB
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