Recordações inesquecíveis (14), por Milton Lodi » Jockey Club Brasileiro - Turfe

Recordações inesquecíveis (14), por Milton Lodi

   Um fato muito marcante, muito lúcido em minha memória, ocorreu em meados de junho de 1960.

            O turfe brasileiro ainda estava em clima de euforia, decorrente das quatro vitórias obtidas nos dias 28 e 29 de maio, em Palermo e em San Isidro, nas quatro provas que lá foram disputar. Na verdade, foi um momento muito importante, quando a criação argentina dominava as corridas sul-americanas. A superioridade era de tal forma que, dois episódios mostravam o que havia na época.

            Duas importantes éguas tinham sido, dentre outras, convidadas para formar o grupo que iria fazer uma tentativa histórica, elas eram Garça, uma espetacular milheira do paulista Paulo Lara e Tzarina, vencedora de dois grandes prêmios na Gávea em 1.000 metros, da coudelaria Paula Machado. O primeiro deu risadas, negou a ida da Garça dizendo que os argentinos nos ganhavam aqui mesmo, em nosso país, e não havia sentido ir lá correr no “ninho das cobras”. A negativa da ida de Tzarina era que a ideia não tinha cabimento, devia ser abandonada, era uma verdadeira loucura, um sonho irresponsável, sem cabimento.

            Nos dias que se seguiram à vitoriosa excursão, os corredores e os proprietários dos quatro vencedores receberam dezenas de telefonemas e telegramas, do Rio Grande do Sul, do Paraná, de São Paulo e Rio, foi um impacto estrondoso, uma enorme surpresa para a grande maioria dos turfistas.

            Cerca de duas semanas depois, o então Presidente do Jockey Club de São Paulo, Luiz Oliveira de Barros, informou que em um próximo domingo, os criadores e os proprietários dos oito animais que participaram da vitoriosa iniciativa, que haveria um desfile na raia de grama de Cidade Jardim para o então Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, a pedido do Palácio do Planalto de Brasília. Foi preparado pelo Jockey Club de São Paulo um leve almoço, na Tribuna de Honra, quando o Presidente, a pedido dele, iria conhecer e conversar com os responsáveis pelo sucesso daquela empreitada.

            Meia hora antes do horário marcado para o almoço, todos já estavam de paletó e gravata, aguardando o Presidente Juscelino. No momento previsto, quando nos céus não se via sinais do avião, eis que surgiu vindo por trás da Tribuna, um helicóptero da Força Aérea Brasileira, que passou pelo alto da marquise e parou no ar em frente ao grande público. O Presidente estava na porta do helicóptero de carga, tendo como proteção um largo cinturão. Com um grande sorriso e sobre aplausos gerais o Presidente acenou para o público turfista.

            O helicóptero pousou na pista de grama e o Presidente foi recebido festivamente pela Diretoria do Clube. Foram até a Tribuna de Honra, e de lá com simplicidade e simpatia, o Presidente Juscelino conversou com todos, amigavelmente, fazendo perguntas a abraçando todos. Seguiu-se um rápido almoço e a seguir os alto-falantes do Hipódromo de Cidade Jardim anunciaram a entrada na pista de grama dos oito animais, que nas tais quatro provas clássicas, haviam obtido quatro vitórias, um segundo, um quarto, um quinto e um sexto. Um a um, em fila, levados por seus jóqueis vitoriosos e seguros pelos seus cavalariços, foram até a seta dos últimos 200 metros e, espaçadamente, galoparam Escorial com Francisco Irigoyen, Elizabeth com Antonio Bolino, Major’s Dilemma com Luiz Rigoni, Derah com Omário Reichel e a seguir Farwell, Excêntrica, Lohengrin e Narvik.

            O público saudou os galopes com muitas palmas, assim como também, se manifestava o Presidente Juscelino. Então, o Presidente fez uma ligeira saudação, enaltecendo a ousadia, a coragem daqueles criadores e proprietários, todos paulistas, como também os oito animais, e a Diretoria do Jockey Club de São Paulo. Terminou perguntando quem era o proprietário de Escorial, o vencedor da prova mais importante. Quando Roberto Grimaldi Seabra se adiantou, Presidente lhe deu um caloroso abraço e lhe entregou uma taça que trouxera de Brasília. A seguir, disse que tinha ainda compromissos a cumprir em Brasília.

            O helicóptero que tinha sido estacionado no peão do prado, voltou à pista de grama, e nele o Presidente embarcou. Quando todos imaginavam que o evento tinha se encerrado, eis que o helicóptero subiu vagarosamente em sentido vertical, parou no ar em frente à Tribuna e na porta surgiu o Presidente Juscelino, sorridente e com um lenço branco na mão, acenando para o público. A resposta foi imediata, todos de pé e, também, com lenços brancos, respondiam a um Presidente da República que acompanhava o que ocorria no país e sabia valorizar os grandes feitos.

            Foi um momento mágico e inesquecível.

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