Para melhor explicarmos, teremos que fazer um pequeno histórico.
Há quase 100 anos, mais precisamente em 1926, quando da fusão do Jockey Club (na Rua São Francisco Xavier, onde hoje se encontra a UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com o Derby Club (aonde hoje se encontra o Estádio do Maracanã), foi inaugurado o Jockey Club Brasileiro, segundo descrito no livro de sua construção e inauguração de autoria de seu Engenheiro Chefe, Dr. Mário de Azevedo Ribeiro, no “longínquo bairro da Gávea”.
No dia 16 de julho de 1926 entre várias corridas no dia de sua inauguração, foi corrido o GP Cruzeiro do Sul. Essa tradicionalíssima prova, anos depois, foi antecipada e convertida no Derby Brasileiro. No ano de 1926, a Cidade do Rio de Janeiro era a capital do país e, acredite se quiser, a mais populosa com cerca de 500 mil habitantes. Naquela época, a criação brasileira era muito incipiente e os animais de 3 anos muito imaturos. Estes não tinham a menor chance ao enfrentar os mais velhos. Hoje, devido a melhoria na criação, alimentação, veterinária, manejo e genética, um 3 anos está muito amadurecido para enfrentar os mais velhos.
Nessa época, devido a este fator, o JCB colocou essas provas, que depois se converteram em Tríplice Coroa, na segunda metade dos 3 anos. A citada Tríplice Coroa de então era em 1600-2400-3000 metros, e o GP Brasil, era também em 3000 metros, desde o primeiro em 1933 até o ano de 1971. À partir de 1972 até os dias atuais, em 2400 metros. A atual Tríplice Coroa é em 1600-2000-2400 metros, sendo o GP Cruzeiro do Sul – Derby Brasileiro, a etapa final.
Aqui cabe uma explicação, ou seja, para não misturar a palavra semestre pois nosso ano hípico não coincide com o ano calendário, prefiro usar, primeira metade dos 3 anos e segunda metade dos 3 anos. Em todo o mundo do turfe evoluído, os 3 anos competem entre si na primeira metade (os primeiros 6 meses) e na segunda metade enfrentam os mais velhos na chamada “3 anos e mais idade”. É nesta segunda metade dos 3 anos onde se encontram a maioria dos grandes embates mundiais.
O JCB devido a imaturidade dos potros daquela época, colocou essas provas, erroneamente, na segunda metade dos 3 anos e posteriormente, em 1933, quando foi criado o GP Brasil, o colocaram no primeiro domingo de agosto, obviamente com uma chamada de “Produtos de 4 anos e mais idade”. E assim ficou por muitos anos.
Quando foi inaugurado o Hipódromo de Cidade Jardim e com o crescimento do Estado e da Cidade de São Paulo, sem querer, o JCSP colocou as suas provas, que depois vieram a se tornar uma Quádrupla Coroa, de maneira correta, na primeira metade dos 3 anos, ficando assim, muito mais bem posicionadas e guardando coerência com o turfe europeu, matriz de toda a cadeia de provas que foram copiadas mundo afora.
Nos dias atuais, qualquer prova de Gr.1 no mundo (existem algumas) que excluam os 3 anos, são consideradas como “Gr.1 de segunda classe”, pois aos 3 anos atualmente os potros estão extremamente amadurecidos e é quando atingem o seu auge na performance. Apenas como curiosidade, as provas foram grupadas na Europa e nos EUA na Temporada de 1973 e no Brasil a partir da Temporada de 1974. Na Austrália somente a partir da Temporada de 1976 e na Nova Zelândia a partir da Temporada de 1979.
Junho é o mês de menor índice pluviométrico no Parque Jardim Botânico (Instituição inaugurada ainda na época do Brasil Império), e segundo medições desta citada Instituição nos últimos 40 anos. Levando-se em conta que este Parque é vizinho do JCB, se conclui que o que acontece lá acontece no JCB, portanto, este é o mês mais seco do ano nesta região da cidade e onde se tem a possibilidade de um maior número de raias normais e mais apropriadas para a realização do GP Brasil.
Ao se fazer um meeting no final da temporada hípica é de fato um Grand Finale, exatamente como em outros diversos países, como por exemplo o Arco do Triunfo na França, a Breeder’s Cup nos EUA, a Japan Cup no Japão, a Carrera de Las Estrellas na Argentina, apenas para se citar alguns deles.
E last but not least, o GP Brasil aberto para “Produtos de 3 anos e mais idade”, sempre irá ter um rating maior não só para a prova como também para os animais que nela competirem, preservando a importância e relevância da prova nesta época, isto é, antes de 1º de julho (data de nosso ano hípico no hemisfério sul). O ano hípico no hemisfério sul não coincide com o ano calendário por uma simples razão, é impossível mudar a primavera de lugar.
Por todas estas razões explicadas acima, o GP Brasil mudou para junho e neste mês deve permanecer para que não se retire nenhum prestígio internacional da prova.
por José Carlos Fragoso Pires Jr.