Momentos inesquecíveis (11), por Milton Lodi » Jockey Club Brasileiro - Turfe

Momentos inesquecíveis (11), por Milton Lodi

Uma das mais deliciosas lembranças que tenho, refere-se ao Grande Prêmio São Paulo, que ganhei com o MOUSTACHE. Com o titulo “O Cavalo de Bigode”. Relembrei o fato inusitado que ocorreu comigo.

Na véspera do G.P. São Paulo de 1968, por volta das 10 horas da manhã, um grupo do qual eu e o meu treinador J.S. Souza fazíamos parte conversava à porta do Hospital Veterinário do Jockey Club de São Paulo. O Dr. José Tabarelli Neto, professor da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo, que estava prestando colaboração temporária ao Jockey, disse que até ele que não acompanhava as corridas estava curioso em torno do G.P. do dia seguinte, pois havia sonhado que o vencedor havia sido um cavalo preto, de imensos bigodes, que correra sempre em último pelo meio da raia com as pontas do bigode raspando as duas cercas, e que na reta, enquanto o público ria, atropelara de último para primeiro, derrubando todos os competidores com o bigode. Todos do grupo acharam que o Dr. Tabarelli estava brincando comigo, já que o meu potro, candidato ao G.P., chamava-se Moustache (que em francês quer dizer “bigode”). Ele ficou surpreso com a reação, dizendo desconhecer detalhes, inclusive, os nomes dos cavalos inscritos e mesmo que eu tinha um competidor.

Domingo no prado fui logo abraçado pelo turfista Dr. Carlos Eduardo de Salles Gomes, um dos melhores e bem conceituados veterinários paulistas (que veio a ser o proprietário do DUPLEX), que me disse serem comuns a ele sonhos que se realizavam que o MOUSTACHE ia ganhar. Os outros três colocados também seriam nacionais, que o quinto seria argentino; eu respondi que se esse sonho se realizasse ele mereceria uma garrafa de whisky. Resultado do páreo:

1º – MOUSTACHE, 2º EL CENTAURO, 3º – OSMAN – 4º SABINUS, 5º – o argentino FISHER; e eu dei a garrafa.

Três meses depois, dia 04 de agosto, MOUSTACHE correu na Gávea o G.P. Brasil, chegou em último, “sentido”. No dia seguinte eu estava de volta ao Jockey Club de São Paulo nas corridas, quando um funcionário fardado me entregou um envelope fechado com o timbre do Jockey e endereçado a mim, e manuscrito “Recebi dia 03-08-68 (sábado) às 18:00hs – B. Nascimento”, e dentro o seguinte bilhete: “3/agosto/68 – Caro Milton – Por razões óbvias não lhe contei pessoalmente meu sonho sobre o G. P. Brasil. Deixo-lhe esta carta em mãos do Benedito. Ganhou o único cavalo argentino inscrito. Dos paulistas somente DILLEMA se colocou. Segundo o meu sonho, MOUSTACHE chegou longe e algo “sentido”. Desejo que nada disto aconteça e seu cavalo ganhe novamente. Um abraço. Salles.

O vencedor foi o único argentino, ARSENAL.

Essa história é do conhecimento, dentre outras, de pessoas de minha família, do Bolino e do Dr. Tabarelli, que estão ai vivos e, era também, do meu treinador J.S. Souza (morreu em 1987) e, naturalmente, do Dr. Salles (morreu em 1991).

O bilhete está guardado comigo.

Coisas de cavalos de bigodes.

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