As alunas do curso de nutrição da Universidade Veiga de Almeida, coordenadas pelo professor Carlos Eduardo, tem ministrado palestras semanais para os alunos e aprendizes da EPT. Palestras estas que, a partir dessa semana, serão publicadas nesse site.
Uso de Jejum para redução de peso
Tavares C.; Granito M.; Das Neves C.E.
O que é o jejum?
Segundo o dicionário Aurélio, jejum significa abstinência de alimentos; É o ato de diminuir ou deixar por completo de se alimentar por um período.
Todos que fazem jejum por conta própria, a fim de conquistar o peso ideal, em pouco tempo, não é uma forma saudável de emagrecimento e pode trazer vários prejuízos à saúde.
Ficar um longo período sem se alimentar pode resultar em vários sintomas desagradáveis, como: raciocínio confuso, perda de memória, dores de cabeça, tontura e até mesmo desmaios. São sintomas relacionados ao processo de hipoglicemia, isto é, redução da glicose na corrente sanguínea. Fazer jejum causa perda de massa magra, fraqueza, cansaço, mau humor, entre outros sintomas. O emagrecimento se torna mais lento porque o organismo reduz o gasto calórico com o objetivo de poupar calorias. Isso favorece o reganho de peso. Sem falar dos excessos alimentares na próxima refeição. (MARQUEZI; COSTA, 2008)
Em períodos de jejum, a glicose estocada é utilizada para manter normais as taxas de glicemia na corrente sanguínea. Isso é fundamental, pois o cérebro precisa de energia. Se o jejum durar muito tempo, o organismo começa a utilizar outros meios para obtenção de glicose (gliconeogênese). Ocorre, primeiro, a quebra das proteínas que são convertidas em glicose. Por último, a mobilização de gordura. Quando o jejum prossegue por muito tempo, intensifica-se novamente o catabolismo proteico.
Pessoas que praticam atividade física e que se submetem a períodos de jejum podem sofrer ainda mais. Durante o exercício, há um aumento do gasto energético, ocorrendo uma alteração no metabolismo e, diante desta situação, o corpo pode responder provocando desmaios, além de outros riscos maiores no sistema nervoso. (OPPLIGER et al., 1996)
Períodos muito longos de jejum podem causar, ainda, deficiência de nutrientes importantes que causam sérios distúrbios ao corpo.
Como meu corpo supre a demanda de energia se estou em jejum?
O corpo humano trabalha com vários sistemas de geração de energia e cada um utiliza um substrato energético diferente. O principal substrato energético utilizado pelo corpo é o Carboidrato (CHO). Para suprir a demanda energética das atividades, possuímos vários estoques desse substrato. Um deles é o Glicogênio Muscular que é uma forma de armazenagem de carboidrato nos músculos. (MARQUEZI; COSTA, 2008)
Quando estamos em jejum, estes estoques estão com suas reservas diminuídas, forçando o corpo a buscar outras fontes e outros locais de estoque de energia, como a glicose sanguínea e hepática. Mesmo assim, em jejum estes estoques também se encontram em baixa e novamente forçam o corpo a buscar outras fontes de energia, que podem ser os estoques de gordura e fontes proteicas (músculo). (FAINTUCH et al, 2000)
Malefícios do Jejum
Durante a execução dos exercícios físicos, se você estiver em jejum, seu nível de glicose no sangue pode estar muito baixo (hipoglicemia). Então, seu organismo vai passar a consumir proteínas. Você perde massa magra (músculos), diminui seu metabolismo e acaba ficando mais fraco. O desempenho cai e o desgaste físico e emocional aumentam. Em condições normais, com alimentação equilibrada, o organismo consegue manter este equilíbrio interno. No entanto, o jejum prolongado pode comprometer esse balanço energético. Alem disso, depois de muito tempo sem comer, o metabolismo passa a funcionar mais lentamente, como tentativa de economizar energia. Como consequência, na próxima refeição, a tendência é acumular mais gordura. O ideal é não ficar sem comer por mais de 4 horas, distribuindo as refeições durante o dia. (FAINTUCH, Joel et al, 2000)
O cérebro não tem qualquer reserva energética e, por isso, independente do estado nutricional é necessário que haja um suprimento de glicose, provenientes principalmente de alimentos com fontes de carboidratos para este tecido. Situações de hipoglicemia, por exemplo, onde ocorre uma redução dos níveis de glicose sanguínea, podem acarretar perturbações no funcionamento do sistema nervoso central, que vão desde cefaléia, falta de coordenação da fala e motora, até alterações no eletroencefalograma e coma.
Jejuns superiores a quatro horas podem resultar em lentidão dos movimentos, raciocínio confuso, perda de memória, dores musculares e de cabeça, tontura e até mesmo desmaios em alguns casos mais graves. Quem persiste em tornar o almoço a primeira refeição do dia, está expondo o organismo a mais de doze horas em jejum. Esse estado metabólico também pode favorecer, consideravelmente, o aparecimento de infecções, já que o organismo está fraco, devido à falta de nutrientes. O jejum também torna a presença do mau hálito mais suscetível, correspondente a acidose metabólica (excesso de acidez no sangue caracterizada por uma concentração anormalmente baixa de carboidratos), decorrente de jejuns superiores a seis horas. O mecanismo de compensação realizado pelo organismo em situações de acidose é uma respiração mais profunda e rápida, pois o organismo tenta livrar o sangue do excesso de ácido, reduzindo, assim, a quantidade de dióxido de carbono. Os rins tentam excretar mais ácido na urina. Quando estes dois mecanismos não conseguem estabelecer a homeostase e o corpo continua a produzir ácido em demasia, instala-se um quadro de acidose grave e, em última instância, o coma (MARQUEZI; COSTA, 2008)
Referências:
1. Perón, Alessandra Paula de Oliveira Nunes; Garcia, Luciana da Silva; Alvarez, Juan Francisco Garcia; Filho,Waldir Zampronha; Silva, Alex Wilson. Perfil nutricional de boxeadores olímpicos e avaliação do impacto da intervenção nutricional no ajuste de peso para as categorias de lutas. O Mundo da Saúde, São Paulo: 2009;33(3):352-357.
2. Philips,S. Protein requirement and supplementation in strength sports. Nutrition. 20:689-95. 2004.
3. Faintuch, Joel et al. Alterações nos compartimentos hídricos e energéticos do organismo durante a greve de fome. Rev. Hosp. Clin.[online]. 2000, vol.55, n.2, pp. 47-54. ISSN 0041-8781. http://dx.doi.org/10.1590/S0041-87812000000200003
4. Oppliger, R.A; Case, H. S.; Horswill, C.A.;Landry, G. L.;Shelter, A. C. Weight loss in wrestlers: ACSM Position Stand. Medicine and Science in Sports and Exercise, 28, 9–12. 1996.
5. MARQUEZI, M. L; COSTA, A. S: Implicações do jejum e restrição de carboidratos sobre a oxidação de substratos. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. v. 7, n.1, p. 119-129, 2008.