Em 1959, a potranca Emoción havia vencido o Grande Premio Diana em Cidade Jardim, e ia tentar o Diana da Gávea. Emoción era só qualidade. Pequena e com peso em torno de 380kg, era valente, uma típica Grupo I. O seu pedigree era régio. O pai Orsenigo, ganhador da Derby Italiano, filho do melhor garanhão alemão da época, Oleander, foi o primeiro ganhador que veio em shuttle para o Brasil e a sua produção não poderia ter sido melhor, basta lembrar de Escorial, Lohengrin, Cáucaso, além dentre outros ótimos, a própria Emoción. Foi o resultado de uma internacionalização promovida pelos criadores Roberto e Nelson Grimaldi Seabra misturando sangue das melhores e mais variadas origens, mas só com material de primeira. A mãe de Emoción era a argentina Empeñosa, uma filha de Full Sail em filha de Congreve, o chefe da raça argentino. Empeñosa foi a leilão quando potranca, era o maior destaque, na opinião de muitos, dentre todos os muitos milhares de potros e potrancas argentinas daquele ano, cobiçada pelos melhores criadores e proprietários. O seu preço foi muito alto, talvez o maior do ano e foi comprada pelos irmãos Seabra. Desde a estreia foi um sucesso na Argentina, e uma de suas vitorias foi no importante Seleción, o que lhe deu o titulo de melhor potranca da geração. Vindo para o Brasil, Empeñosa continuou com seu sucesso, vencendo provas do maior gabarito, até que um dia, nos trabalhos matinais, fraturou um pé quando galopava em mãos de seu redeador chileno, o ex-jóquei Manoel Chirino. Empeñosa foi para reprodução, e dentre os seus ótimos filhos devem ser citados Emoción e o invicto Emerson, nascido do seu cruzamento com Coaraze, por muitos considerado o melhor corredor brasileiro de todos os tempos, e que após as suas retumbantes vitórias foi ser garanhão na França, e apesar da defesa de mercado dos franceses, assim como faziam e ainda fazem os ingleses, foi ótimo pai. Para vencer o Diana na Gávea, Emoción tinha que ganhar de Derah, uma fortíssima corredora, grande ganhadora clássica. Para que se tenha uma ideia do poderio locomotor da Derah, basta lembrar a sua vitória na milha internacional de éguas, em Palermo, no dia 28 de maio de 1960, uma vitória espetacular, esmagadora, por larga margem, na semana do Gran Premio 25 de Mayo.
Além da diferença física entre Emoción e Derah, havia aquela dos jóqueis. Emoción ia com o mestre Francisco Irigoyen e Derah com seu jóquei habitual, o paranaense Omário Reichel, que era acima da média, corria bem, mas não tinha o toque artístico, aquele algo mais que diferencia os ótimos dos bons. O que se viu na corrida foi um domínio incontestável de Derah, que já no meio da reta final anunciava-se como fácil ganhadora. Mas no previsto não aconteceu. Irigoyen percebendo que pelo menos daquela vez Emoción não ia ganhar da Derah, colocou Emoción rigorosamente atrás e na mesma linha que Derah. Reichel olhou mais de uma vez para trás, mas não via Emoción, fora de sua área de visão. Essa técnica de Irigoyen era utilizada pelos grandes azes chilenos, e Juan Marchant era um dos adeptos desse artifício, que só a alta categoria permitia. Derah entrou absoluta nos últimos 200 metros, e aí aconteceu o que Irigoyen aguardava. Com a vitória praticamente em suas mãos, Reichel relaxou o ritmo de Derah, não mais a exigiu, deixou-a a vontade. Derah, sentindo-se mais livre, afastou-se da cerca interna, foi uma ou duas linhas para fora, o suficiente para Irigoyen meter Emoción por dentro e surpreender Derah. O público dividia-se entre aplausos para o mestre chileno, e as vaias para o jóquei perdedor. Foi a marcante diferença entre o ótimo e o bom. A vitória de Emoción daquela forma em nada desmereceu a excelente ganhadora clássica, a derrota de Derah também em nada a desmereceu, como vítima de um ato falho do seu apenas bom jóquei. Irigoyen, depois do páreo e em clima de euforia, disse que pelo menos naquele dia Emoción não ganharia da Derah, mas que a tática usada foi um último recurso para não desistir da desejada vitória, além do que, pelo hábito de correrem entre si, os jóqueis conheciam bem as características uns dos outros. Aquele Diana proporcionou um momento inesquecível e mostrou que, em princípio, os grandes prêmios foram feitos para os melhores cavalos, apresentados pelos melhores treinadores e montados pelos melhores jóqueis.