Recordações inesquecíveis (6), por Milton Lodi » Jockey Club Brasileiro - Turfe

Recordações inesquecíveis (6), por Milton Lodi

À época da 2ª Grande Guerra Mundial, 1939-1945, alguns bons animais vieram para o Brasil. Um deles foi o inglês Felicitation, filho de Colorado, um Phalaris, na égua Felicitá, uma filha do fundista Cantilever. Foi comprado pelos irmãos Roberto e Nelson Grimaldi Seabra, para o Haras Guanabara. Felicitation era da criação Aga Khan. Também foi importado na mesma época outro inglês mas que já estava na argentina, Hunter’s Moon, um filho de Hurry On, esse por Marconil, na égua Selene, também mãe do chefe de raça Hyperion. Felicitation e Hunter’s Moon foram os pilares do grande sucesso do Haras Guanabara. Em 1949, nasceu um potro filho de Felicitation e Hurona, uma filha de Hunter’s Moon e Contra, por Copyright. Esse Copyright foi um excelente garanhão, pai dentre outros de Congreve, chefe de raça Argentino. O potro foi denominado Huxley, e após uma ótima campanha nas pistas brasileiras, foi exportado para o Chile, onde foi ótimo reprodutor. Huxley foi um corredor de primeira turma, grande ganhador clássico, inclusive da 3ª prova da tríplice coroa paulista, o G.P. Consagração, em 3.000 metros.

Nos anos de 1952 a 1955, um dos grandes nomes do turfe brasileiro era o tordilho Quiproquó, importado da Inglaterra no ventre, inclusive um tríplice coroado no Brasil. Huxley enfrentou Quiproquó nos então 3.800 metros do G.P. Derby Club, chegando em 2º para o campeão. Mas havia ainda uma prova em distancia maior, em 4.000 metros, uma prova que não existe mais e que se chama G.P. Jockey Club do Rio de Janeiro. Coincidiu que o tal G.P. foi corrido no mesmo dia em que, em Cidade Jardim seria corrido o G.P. Derby Paulista, e o fantástico Juan Marchant, contratado pela mesma coudelaria de Quiproquó, o Haras Mondesir, tinha Timão como o favorito, e naturalmente Marchant foi para o Derby, que venceu. Os dois melhores competidores do G.P em 4.000 metros ficaram sem jóqueis, pois o notável Francisco Irigoyen da Coudelaria Seabra, também iria participar do Derby Paulista. O chileno Luiz Diaz, que entendera que ficaria com a montaria de Quiproquó, foi surpreendido à hora das assinaturas dos compromissos de montaria que quem iria montar Quiproquó seria outro bom chileno, Emidgio Castillo. Diaz de pronto correu para a montaria de Huxley, a aparente segunda força do páreo. Quiproquó, o campeão, com o bom chileno Castillo, e Huxley e com o estrategista chileno Diaz. O provável desenrolar dos 4.000 metros estava na cabeça de todos os turfistas, em função da longa distancia o ritmo do páreo seria moderado, com Quiproquó colocado aguardando o devido momento para sua habitual partida curta final. Mas o estrategista Luiz Diaz surpreendeu a todos , logo após a partida acelerou Huxley até livrar cerca de 10 corpos de vantagem, e ai passou ao ritmo moderado. Ninguém se atreve a persegui-lo de perto, afinal por 4 quilômetros, Castillo manteve Quiproquó dentro de suas características, quieto e colocado para habitual vencedora partida curta final. Enquanto isso Diaz mantinha a grande diferença mas em ritmo moderado, deixando Huxley respirar, em galope manso, cadenciado, sem pressa. Assim foram ate os 800 metros, e enquanto todos aguardavam a entrada da reta final, Diaz foi aos poucos aumentando o ritmo de Huxley, sem exagerar mas mantendo a grande diferença. Castillo ficou entre duas alternativas, ou acelerava Quiproquó antes do tempo para poder tentar chegar no ponteiro, e com isso sacrificando as características do campeão e arriscando um final inadequado, com Quiproquó muito mais cansado no final, ou continuaria aguardando o meio da reta para atropelar, e certamente ai seria tarde demais. Castillo e todos os outros jóqueis perceberam a genial jogada de Luiz Diaz em Huxley, e o jeito era tentar desde o inicio da reta uma lenta aproximação, com o menor desgaste possível até alcançar Huxley, mas nada mais adiantava, Huxley venceu o páreo no percurso, com uma aceleração inicial logo seguida por um grande trecho com o cavalo galopando à vontade, respirando, e ao ser ajustado na parte final ainda com reservas para suportar o ataque dos adversários.

Foi a vitória da inteligência, da estratégia, de um jóquei que não usava cronômetro nem nos trabalhos matinais, ele tinha absoluta noção da velocidade, na verdade ele tinha um cronômetro na cabeça. Na volta dos competidores da pista, notou-se que Diaz aproximou Huxley de Quiproquó, e que o jóquei ganhador dirigia-se rispidamente a Castillo. Com poucas vaias e muitos aplausos o publico recebeu de volta os dois ótimos corredores, e talvez em função de alguma coisa que tenha sido dirigida ao grande Luiz Diaz, ele retrucou com um gesto inadequado, o que lhe valeu uma suspensão por indisciplina. Quiproquó era um excelente corredor, tinha como característica uma partida final curta, e disso se valia o seu jóquei habitual Juan Marchant, e a derrota nos 4.000 metros em nada desabona o bom chileno Emidgio Castillo, o que aconteceu foi um extraordinário momento de genialidade de Luiz Diaz, que tinha como grande adversário o seu tamanho e peso inadequados para a profissão, e apesar disso foi dos melhores dentre os muitos ótimos chilenos que para o Brasil vieram, como J. Marchant, O. Ulloa, F. Irigoyen, L. Gonzales, J. Zuniga, E. Castillo, G. Menezes, L. Leighton, J.Canales e mais alguns ótimos outros.

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