Maio de 1960, por Milton Lodi » Jockey Club Brasileiro - Turfe

Maio de 1960, por Milton Lodi

Em princípios de 1960, conversávamos no Rio de Janeiro o Roberto Seabra e eu sobre o ótimo padrão dos bons cavalos brasileiros de então, quando ele me disse que ira levar o ESCORIAL, que havia ganho o Pellegrini no dezembro anterior, para o Gran Prêmio 25 de Mayo. Daí surgiu à ideia de formarmos um grupo de animais para correr naquela semana internacional as quatro principais provas. Fui para São Paulo, e o então Diretor do Jockey Club de São Paulo, Antonio Luiz Ferraz, teve a maior receptividade, e levou de imediato o assunto para o Presente Luiz de Oliveira Barros, que passou logo a ser o mais entusiasmado, propondo ser o Jockey Club de São Paulo o promotor e o patrocinador da excursão, colocando os serviços e o dinheiro do Clube à disposição.

Para a prova de 1.000 metros para éguas foram selecionadas TZARINA e EXCÊNTRICA (os responsáveis por TZARINA não se interessaram em levar, e ela foi substituída por ELISABETH, que vinha de dois segundos lugares a pescoço dela); para os 2.500 metros foram indicados MAJOR’S DILLEMA e LOHENGRIN; para a milha de éguas deveriam ir GARÇA e DERAH, mas o dono de GARÇA achou graça naquela “loucura, ir lá no ninho das cobras” e não concordou indo apenas DERAH (não foi indicada substituta pois naquele momento não havia outra à altura, numa análise rigorosa); para os 2.400 metros, os três melhores cavalos brasileiros: FARWELL, ESCORIAL e NARVIK.

Semana internacional em Buenos Aires, com a participação dos melhores animais da Argentina, Brasil, Peru e Uruguai.

Sábado, dia 28 de maio de 1960, no Hipódromo de Palermo, foram corridos três dos quatro páreos:

·         1.000 metros, éguas, 12 inscrições – 1º ELISABETH (criador e proprietário Haras Ipiranga, treinador Claudemiro Pereira, jóquei Antonio Bolino); 2º lugar argentina, 3º uruguaia, 4º EXCÊNTRICA (Haras Guanabara, Juan de La Cruz, Francisco Irigoyen);

·         2.500 metros, produtos, 14 inscrições – 1º MAJOR’S DILLEMA (Haras Terra Branca, Manoel Branco, Luiz Rigoni);

·         1.600 metros, éguas, 9 inscrições – 1º DERAH (foto) (criador Haras Ipiranga, proprietário Haras Eduardo Guilherme, Manoel Cavalheiro, Omário Reichel).

Domingo, dia 29 de maio de 1960, no Hipódromo de San Isidro foi corrido o Gran Prêmio 25 de Mayo:

·        2.400 metros, produtos, 21 inscrições – 1º ESCORIAL(foto abaixo) (Haras Guanabara, Juan de La Cruz, Francisco Irigoyen); 2º FARWELL(foto ainda mais abaixo) (Haras Jahú e Rio das Pedras, Castorino Borges, Lodegar Bueno Gonçalves), 3º peruana, 4º argentina, 5º NARVIK (Haras Faxina, Manoel Farrajota, Luiz Rigoni).

Na segunda-feira, véspera da volta, fui procurado no hotel por um senhor húngaro radicado na argentina, que me disse ter opção para oferecer um reprodutor alemão, como corredor líder de geração na Áustria, que estava fazendo monta na Hungria; o cavalo foi lá examinado e aprovado pelo Capitão Bela Wodianer, o melhor homem de cavalos que jamais conheci, que trabalhava no Fomento do Jockey Club de São Paulo e prestava serviços particulares para mim, foi comprado e devidamente importado. Fiz esse reprodutor, TAKT, cobrir a égua causadora da oferta, ELISABETH, e o produto foi MOUSTACHE, ganhador do Grande Prêmio São Paulo de 1968.

A coroação do excepcional feito da criação brasileira em maio de 1960 foi o almoço num domingo oferecido na varanda do hipódromo pelo Jockey Club de São Paulo aos criadores e aos proprietários dos citados animais que haviam corrido em Buenos Aires e que desfilaram na raia de grama, ao qual compareceu o Presidente da República Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, que discursou e fez entrega de taças.

Maio de 1960 não pode ser esquecido.

OBSERVAÇÕES:

– As performances dos animais brasileiros deixaram atônitos os turfistas argentinos, acostumados a dominar amplamente o turfe sul americano;

– A vitoriosa excursão brasileira, com oito animais participando de quatro provas, com o resultado de quatro vitórias (Elisabeth, Major’s Dilema, Derah e Escorial), três colocações (o 2º de Farwell; o 4º de Excêntrica; e o 5º de Narvik) e uma descolocação (o 6º de Lohengrin), foi o primeiro momento, realmente auspicioso, para a criação nacional como um todo, não um resultado isolado que pudesse representar uma eventual exceção (como, por exemplo, a vitória de ESCORIAL no Pellegrini de dezembro de 1959), mas uma prova de nova força da criação brasileira;

– Nos 1.000 metros das éguas, a segunda colocada, a argentina MEDINA, havia corrido três vezes (com um 2º na estreia quando largara mal e duas vitórias), e estava sendo negociada para os Estados Unidos; a terceira colocada foi PRINCIPESCA, uma boa uruguaia; após o páreo, o grande ídolo argentino, o jóquei Irineo Leguisamo, impressionado com a forma com que ELISABETH foi corrida, em 1.000 metros guardada para uma aceleração final de menos de 200 metros, foi ao vestiário dos jóqueis cumprimentar o ganhador e de lá saiu dizendo ter encontrado “um jóquei com vinte anos de idade que corria como um experiente e bom veterano”;

– Nos 2.500 metros, o segundo colocado foi IMBROGLIO, considerado imbatível na pista de areia; a performance de MAJOR’S DILLEMA foi esmagadora, e Rigoni como sempre deu um espetáculo de categoria; LOHENGRIN foi um bom 6º, já que era um recordista e grande ganhador clássico na grama;

– Nos 1.600 metros, havia uma preocupação quanto ao fato de haver dois discos de chegada, cada um valendo para determinadas distâncias dos páreos, o que deixou Omário Reichel nervoso e fez com que DERAH, já com boa vantagem na frente, seguisse até o fim da reta exigida a fundo, vencendo por enorme diferença;

– No 25 de Mayo, (chegada ao lado) os cavalos argentinos obrigaram FARWELL a um ritmo forte para correr na frente, enquanto ESCORIAL só apareceu na entrada da reta, que tem cerca de 800 metros, onde os argentinos cansaram; FARWELL tentou levar vantagem, mas logo ESCORIAL, em rápida arremetida por ele passou, mas não fugiu porque FARWELL reacionou; sempre com vantagem para ESCORIAL, porém com FARWELL tentando voltar por dentro, uma longa e fantástica luta só se definiu no final com diferença entre eles menor que aquela do início; o terceiro lugar foi da égua chilena PAMPLONA, que mais tarde como reprodutora na França, foi grande mãe clássica; em quarto a égua argentina SAL CEREBOS; à exceção dos dois primeiros que chegaram com boa luz, os três seguintes finalizaram perto entre si, com NARVIK também em boa performance.

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