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Turfe, uma vida de paixão: Bruno Queiroz

Nossa coluna desta semana traz um pouco mais sobre um dos pilotos expoentes dessa nova geração de jóqueis. Com apenas 20 anos de idade, o filho do Antônio e da Sandra já soma quase 700 vitórias na carreira e é bicampeão da estatística de pilotos que atuam no turfe carioca.

Bruno Queiroz, o B.Queiroz dos programas oficiais, conversou com o site do JCB nas dependências da EPT (Escola de Profissionais do Turfe), onde tudo começou. Ficou nítido que ao entrar pela escolinha, Bruno parece fazer uma pequena viagem ao tempo. Educado, cumprimenta todos os funcionários e os demais alunos e aprendizes. Observo um Bruno reflexivo, atento ao seu redor e com um brilho no olhar. Logo, ele diz:  

“É aqui, nesse lugar, que começa a minha história.”
 
Fomos andando em direção a um banco próximo ao picadeiro onde os alunos dão seus primeiros passos em cima de um cavalo e o jovem piloto foi nos contando um pouco mais sobre si…

“Cheguei no Rio de Janeiro vindo de São Paulo com a minha família durante o ano de 2016. O Turfe em Cidade Jardim estava atravessando um momento complicado e o meu pai, que é jóquei, teve uma oportunidade de se transferir para a Gávea. Viemos de mala e cuia pra cá… meus pais, eu e minhas irmãs, Beatriz e Bianca.
 
Fiz a seleção para a Escolinha de Aprendizes a convite da Juliana Dias (Coordenadora da EPT), mas na época eu tinha quinze anos e só com dezesseis que pode ingressar na EPT. Fui aprovado e esperei um tempo até poder ser chamado. Foram seis meses como aluno, aí estreei em janeiro de 2018 e me profissionalizei em maio de 2019.”
 
Bruno diz que desde pequeno sempre acompanhou o pai, o piloto Antonio Queiroz, e naturalmente tinha o desejo de se tornar jóquei também. 
 
“Desde novinho eu gostava de ver meu pai montando e queria ser igual a ele. Andava sempre com um chicote nas mãos e, às vezes, vestido com farda de jóquei. Mas apesar do meu pai montar e diferente de muitos meninos que entram na escolinha já sabendo alguma coisa, eu comecei do zero mesmo. Tudo o que eu aprendi sobre montar um cavalo de corrida, devo aos ensinamentos que tive na EPT e aos conselhos que o meu pai sempre me deu. Aqui foi construída a base de tudo, foi onde entrei aluno e me formei um jóquei profissional.”
 
Com apenas 3 anos de carreira e pilotando de igual para igual contra nomes que ele mesmo cita, como Jorge Ricardo, Carlos Lavor, Valdinei Gil e Leandro Henrique, Bruno tem a consciência de que está trilhando um ótimo caminho e vai se consolidando cada vez mais como um nome forte no cenário do turfe nacional, mas tem a humildade e a sabedoria de que a profissão é traiçoeira e que para se manter no topo, a tarefa não é a das mais fáceis. 
 
“Meu pai sempre me deu muitos conselhos e um deles foi de que para ser um jóquei de sucesso tem que se trabalhar muito, com sol ou chuva, com calor ou frio e que era preciso abrir mão de muitas coisas, levar uma vida de atleta mesmo. Eu me dedico muito, trabalho todos os dias. Claro que a gente sempre espera bons resultados, fico feliz com o meu início de carreira, ainda mais atuando num turfe cheio de bons pilotos como os que montam aqui na Gávea. Não me iludo com isso, sei que tenho muita estrada ainda pela frente e que eu tenho que seguir dedicado e focado na profissão.”
 
Bruno tem em seu agente de montarias, Lucas Reis, o seu braço direito. Lucas, que é filho do treinador Leonardo José dos Reis e cunhado de Bruno (é casado com Beatriz Queiroz), trabalha com o piloto desde o início da carreira e é um dos responsáveis pelo seu sucesso. 
 
“Lucas é um irmão para mim. Meu amigo, casado com minha irmã e pai do meu sobrinho. Quando eu ainda era aluno, ele dizia que iria se tornar meu agente de montarias. Quando eu obtive matrícula de aprendiz, eu fiz o convite para ele. Na hora ele aceitou e estamos juntos até hoje. Lucas é muito querido entre os treinadores e proprietários, é muito inteligente e sabe tudo de cavalos de corrida e de corrida de cavalos. Muito do que estou conquistando se deve a ele.”
 
Embora muito novo e com pouco tempo de carreira, Bruno é um dos pilotos mais requisitados no turfe carioca, o que faz com que esteja sempre nos holofotes, seja para o lado bom ou ruim da coisa. A pressão em cima dos pilotos é grande, são eles quem dão as caras dentro das pistas. Quando entram na raia durante disputa dos páreos, jóquei e cavalo se tornam uma só coisa. 
 
“Com o passar do tempo a gente vai adquirindo mais experiência e malícia para lidar com algumas situações. Hoje, me sinto cada vez mais preparado para lidar com essa pressão que os jóqueis sofrem. Dentro da raia, temos frações de segundo para definir as coisas e às vezes uma decisão errada põe todo um ciclo de treinamento do animal praticamente no lixo. Eu procuro sempre conversar muito com os treinadores, gosto de saber exatamente o que eu estou montando, para que eu tenha em mente o que tenho que fazer e como arrancar o máximo do meu cavalo durante a corrida.”
 
Prova desse amadurecimento foi o convite recebido por Bruno em outubro do ano passado, para ser o jóquei contratado do Haras Santa Maria de Araras, uma potência do turfe. 
 
“Quando o Lucas me falou sobre o convite do Araras, eu não acreditei. Estar no Araras é para um jóquei como estar no Barcelona para um jogador de futebol! Outro patamar. A estrutura é fantástica, a equipe é muito competente. No início é um choque, mas já me sinto em casa. Já conheço os animais, a equipe, o jeito de trabalhar… espero ficar bastante tempo e obter muito sucesso defendendo essa farda.”
 
Tímido e de poucas palavras, Bruno é muito apegado a sua família e se abre um pouco mais quando é para falar sobre eles…
 
“Família é a base de tudo, né? E é na minha que eu recarrego as minhas energias. Procuro ir a um cinema com eles, passear num shopping, estar sempre junto deles quando eu posso. Se eu estou estressado com alguma coisa de trabalho é com o meu sobrinho que gosto de passar o tempo, junto dele eu esqueço de tudo. 
 
Eu e minhas irmãs somos muito unidos, sempre que podem, elas estão no prado para ver eu e o nosso pai montando.
 
Minha mãe ainda fica um pouco tensa quando estou em cima de um cavalo, seja nos matinais ou nas corridas. Quando eu era criança ela me levou para fazer futebol, natação… mas, não teve jeito, está no sangue. Hoje, vendo o caminho que estou trilhando, vendo que sou feliz fazendo o que eu faço, ela já está mais acostumada.
 
Com o meu pai é diferente, ele sempre apoiou e até hoje sempre quer estar junto comigo nos trabalhos, obvio que quando montamos no mesmo páreo é cada um por si, ele nunca me deu moleza na raia. Quando acaba os páreos, aí entra chega a vez dos ensinamentos, conselhos, sermões ou então aquela alegria radiante dele quando eu venço um páreo.”
 
Ainda sobre família, brinco que a torcida dele é considerada a mais barulhenta do Hipódromo da Gávea…
 
“Eu sei (risos). Na semana do GP São Paulo, ganhei provas de grupo e fui segundo colocado no São Paulo por cabeça e a gritaria foi daquelas… imagina eu vencendo um GP Brasil?!
 
Já deu para ter noção do que vai acontecer (risos)…”
 
Bruno é muito jovem ainda, sua jornada profissional está só começando, mas já tem a noção exata do caminho que está percorrendo.  Tem consciência que já deixou de ser promessa para se tornar uma realidade e que será cada vez mais cobrado por isso. Bruno sabe que chegar ao topo não é dificil, mas sabe também que se manter lá não é fácil. 
 
Sabe que tem que abrir mão de alguns prazeres da vida de um jovem porque sabe exatamente o que ele quer para a sua vida profissional. 
 
Bruno entende que a sua rotina é a de um atleta de alto rendimento.
 
Um atleta que almeja voos maiores como, por exemplo, uma carreira internacional de sucesso. 
 
E chegará o dia em que aquele menino que corria por Cidade Jardim com o chicotinho debaixo do braço irá ganhar o mundo!
 
Texto e fotos: João Cotta 
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