A joqueta Victoria Mota deu uma entrevista ao jornal O Globo, na edição desta sexta-feira, 16 de abril.
A jovem fala das dificuldades e emoções da dura profissão de joqueta, sendo ela a única a trabalhar no competitivo turfe carioca.
Veja, abaixo, a íntegra da matéria.
Única joqueta do Rio, Victoria Mota fala sobre o preconceito e os desafios com as mulheres que montam no Brasil
A proporção é bem desigual: um para 36. Entre todos os jóqueis do Rio há apenas uma joqueta. Victoria Mota, de 22 anos, é a única mulher nos páreos da cidade (no Brasil, são apenas três). Filha de uma treinadora e um jóquei, ela sempre teve paixão pelos cavalos, mas, ao mesmo tempo, percebia que a família tentava afastá-la da profissão. “Sabiam que seria muito difícil me estabelecer por ser mulher”, recorda. Mas nada adiantou. Aos 16 anos, ela entrou na Escola de Profissionais do Turfe do Jockey Club Brasileiro e não parou mais. “A maioria das pessoas pensa que mulheres não têm força para segurar um cavalo de 500 quilos e que corre a 65km/h. Mas cavalo não é força, é jeito. Basta saber pegar, conduzir”, afirma ela, uma jovem delicada, de 50 quilos, 1,55m e que acorda todos os dias às 5h para treinar.
O primeiro páreo de que Victoria participou foi em agosto de 2016. Montada no cavalo Afetuoso, ela venceu a corrida. “Ganhei mais sete vezes com ele. Temos uma história bonita juntos, tanto que o dono acabou me doando o Afetuoso”, diz. Em 2018, ela venceu a maior de suas glórias, o Grande Prêmio Conde Herzberg. Depois disso, passou a receber pedidos de autógrafo e fotos. “Adoro. Muita gente se surpreende em me ver montando. Gosto de mostrar para as pessoas que turfe é uma coisa linda, emocionante, um programa maravilhoso. Também me emociona ver que, depois de mim, muitas meninas estão entrando para a escola do JCB (atualmente, são duas meninas se preparando), fico feliz em inspirar e abrir portas.”
Mas nem tudo são flores e medalhas. A joqueta conta que, depois do GP que a colocou nos holofotes, passou 2019 sendo pouquíssimo requisitada. Chegou a pensar em parar. “Fui muito desprestigiada. Os proprietários não queriam que uma mulher montasse seus cavalos. Foram meses de poucas propostas e, quando chegavam, era para competir com cavalos que não tinham potencial”, conta ela. “É preciso coragem e desprendimento para ser joqueta. Enfrentar o preconceito e ainda saber lidar com a variação de salário. Tem semanas que recebo R$ 800 e outras R$ 3 mil. Ser joqueta não é um hobby, é uma profissão que exige 100% de dedicação.”
Matéria de Livia Breves