Exportação de 30 éguas, por Milton Lodi » Jockey Club Brasileiro - Turfe

Exportação de 30 éguas, por Milton Lodi

Desde o inicio da criação dos cavalos de corrida na América do Sul, a Argentina despontou como líder. Através dos anos, as bases do progresso eram o seu petróleo e as suas maravilhosas pastagens, que permitiam fortíssima exportação de carne bovina para todo o mundo. A aristocracia rural argentina, com o então apoio governamental, importava da Europa o que havia de melhor e, inclusive, garanhões até ganhadores do Derby de Epsom. Os sangues eram o que havia de melhor, pastagens ricas e espaçosas. Era assim que a Argentina dominava a América do Sul.

O Uruguai, vizinho da Argentina, também usufruía das boas pastagens do pampa argentino, assim como, em menor escala, as terras do sul do Rio Grande do Sul. Mas a Argentina estava no meio do solo mais fértil, com isso a sua criação ganhou merecidamente prestígio internacional. Com isso, o Uruguai, país limítrofe, mas com território muito menor, passou a abastecer-se de animais argentinos, assim como faziam outros países como, por exemplo, o Brasil e o Chile. A criação de cavalos de corrida na argentina chegou quase a 10 mil potros por ano.

Mas, o tempo foi passando e aconteceram fatos curiosos. Há mais de 60 anos, um dos melhores se não o melhor haras da Argentina, o Chapadmalal que, posteriormente, em função de sucessões dividiu-se em Haras Comalal e Haras Malal-Hué, passou a enfrentar grave problema. Com a habitual entrada de novas éguas para a reprodução, não havia como não vender éguas, e isso representaria entregar aos adversários, armas carregadas apontadas para o próprio peito, pois com um plantel altamente selecionado, qualquer fêmea com a marca Chapadmalal, certamente produziria fortíssimos candidatos contra os interesses do Chapadmalal, que tinha importantes competidores como o Haras Ojo de Água, o argentino, e mais outros de muito bom valor. Daí surgiu uma brilhante ideia, qual seja fazer uma parceria com um bom haras uruguaio, o Chapadmalal entrando com as éguas e o haras uruguaio com a administração e a criação, com toda a produção a ser vendida anualmente em leilão e, consequentemente, divisão meio a meio do valor das vendas. O negócio foi feito com um notável turfista, um advogado de profissão com grande prestígio no mundo do turfe, Dom Aureliano Rodriguez Larreta. Assim foi fundado o Haras Uruguay S.A. O grande criador uruguaio era o habitual líder das estatísticas Haras Nacional, que sucederia o melhor haras uruguaio de todos os tempos, o Haras Casupá, de Don Juan Amoroso. Com apenas a sua primeira geração correndo, o Haras Uruguay S.A. foi o 4º na estatística, e a partir do ano seguinte ganhou todas as estatísticas por cerca de 20 anos. Era à força do sangue Chapadmalal nas ótimas terras uruguaias.

Com o tempo, o Chapadmalal dividiu-se em dois, a intromissão da filosofia norte-americana fez-se sentir, iniciou-se a época da exagerada permissibilidade de remédios para correr e a importação das sobras do turfe norte-americano para a América do Sul. O Uruguai passou por fortes crises, inclusive políticas, e o seu bom Hipódromo de Maroñas ficou fechado por mais de 10 anos. Assim, a grande força da criação argentina foi substituída pela mentalidade norte-americana de medicação quase livre, por garanhões e éguas que corriam quase sempre dependendo de drogas. A produção da criação argentina caiu em qualidade e quantidade, houve uma diminuição no número de produtos criados talvez de até 20%.

Com Maroñas reaberto, o padrão das corridas iniciou-se muito baixo e, até hoje, embora com sensíveis melhoras, ainda fica muito a desejar. A vontade de melhorar e as repetidas demonstrações do atual e já de algum tempo predomínio da criação brasileira no âmbito sul-americano, provocaram um importante encontro das altas autoridades turfísticas uruguaias e o Ministério da Agricultura de lá com a Associação Brasileira, isso em meados de 2012. Com presenças de alto nível, inclusive do Ministro Luiz Fernando Cirne Lima, realizou-se o tal encontro em Montevidéu, com importantes decisões. Com promoção da Associação Brasileira seriam exportadas, anualmente, no mês de março, para o Uruguai, 30 éguas cheias, com os vendedores brasileiros recebendo à vista do Ministério da Agricultura do Uruguai, através da Associação Brasileira, e o Ministério parcelando as compras para os compradores de lá, tudo bancado pelo Ministério, como transportes, estadias, seguros, tudo enfim com garantia.

Aconteceu que, haras uruguaios entenderam de promover grande leilão no Uruguai na mesma época prevista para o primeiro Leilão Internacional Brasil-Uruguai de Éguas Reprodutoras. Entenderam então as autoridades uruguaias que a importação do Brasil iria, em muito, prejudicar os interesses dos criadores uruguaios e solicitaram o adiamento do que já está acertado. A ideia continua, mas a execução fica postergada.

A não ser que surja um fato novo, fica o evento para março de 2014. É uma pena, maior para o Uruguai que para o Brasil, pois a criação uruguaia ficará estagnada por mais um ano.

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