A importância dos “shuttles” fica cada vez mais marcante, com a frequência de vitórias no país e no exterior de filhos desses garanhões de padrão internacional que, anualmente, veem ao Brasil para injetar qualidade e padrão. O turfe brasileiro ganha a cada ano mais prestígio internacional e, em boa parte, isso decorre das iniciativas de “shuttles”. Garanhões irlandeses, ingleses e alemães têm vindo melhorar a qualidade de nossos plantéis. Há ainda o enfoque mais lúcido e moderno de trazer mais animais europeus do que norte-americanos, na procura de trazer qualidade e sanidade, fugindo de eventuais cavalos dependentes de drogas.
Aliás, na Conferência de Paris, realizada em 2012, na Semana do Arco, ao final o Presidente daquele evento dirigiu-se diretamente ao representante do turfe nos Estados Unidos e lhe disse, de modo claro e objetivo, que o turfe mundial esperava que o turfe norte-americano se enquadrasse, até 2015, nos parâmetros que regem a atividade, isto é, respeitando as proibições e os limites. Essa de declaração, ao final da Conferência, deixou claro a todos os participantes que, se não forem tomadas medidas drásticas e imediatas para coibir o uso abusivo de remédios, o turfe norte-americano sofrerá fortes sanções.
Mas, pergunto eu: que sanções seriam essas entendidas como punições? Eu mesmo respondo: pode até o turfe norte-americano ser desprestigiado com a perda da validade de suas provas grupadas. Em outras palavras, poderia o turfe de lá perder a graduação de suas mais importantes provas, todos os páreos, indistintamente, seriam considerados, pela comunidade turfística internacional, como provas comuns. Na prática, se isso vier a ocorrer, o turfe americano, mesmo assim poderá não mudar, continuar com os seus desfiles de drogados e continuando a sua rica atividade como um circo. Os norte-americanos não conhecem o verdadeiro turfe, não conhecem os regulamentos e práticas internacionais, os seus treinadores, em esmagadora maioria, pouco ou nada sabem a não ser medicar, apertar o botão do cronômetro quando das semanais repetidas partidas e procurar participar com os seus animais de provas ditas milionárias.
A fixação inicial é ganhar prova de 1.200 metros, 6 furlongs, e depois intensificar a violência dos trabalhos, sempre ou quase sempre em menos de 1.000 metros. É um desconhecimento quase total. Só para ilustrar isso, bastaria lembrar que há hipódromos nos Estados Unidos onde os corredores levam ferraduras com agarradeiras até nos anteriores. E eles ficam surpresos quando cavalos e éguas fraturam os anteriores até durante as corridas, e têm que ser sacrificados. É um absurdo o desconhecimento da prática turfística. Mas o circo não pode parar, o dinheiro tem que circular e cada vez em maior volume, por isso eu não acredito que o rico circo vá se modificar, acredito que vão continuar praticando o que estão acostumados e não vão, na prática, dar importância aos ditames que norteiam o turfe mundial. Com ou sem validade internacional, as principais provas vão continuar a ser grupadas, mesmo que só valendo para eles.
Essas conjecturas na análise de fatos mostram um verdadeiro abismo, entre o delírio daqueles que promovem as corridas de cavalos nos Estados Unidos e a comunidade turfística internacional. É uma pena, um país tão rico, maravilhoso, e com um turfe tão desastrado.
Enquanto isso, os cavalos brasileiros seguem se firmando nas provas sul-americanas. Na verdade, além da inconteste melhoria conseguida pelos cavalos brasileiros, há o declínio dos turfes uruguaio, argentino, chileno e peruano, que seguem as normas de permissibilidade de drogas para correr, seguindo a linha equivocada e, na contramão, praticada pelos Estados Unidos. De um lado a qualidade e a sanidade, do outro o enfraquecimento que é consequente do uso de drogas. Assim, fica ainda mais fácil.
Só como um mero e despretensioso exemplo, decorrente do respeito à qualidade e à sanidade dos conceitos europeus, nos últimos anos garanhões europeus vieram trabalhar em “shuttle” no Brasil. Só para citar quatro, o irlandês Sulamani, os alemães Shirocco e Manduro e o irlandês Roderic O’Connor. Sulamani ficou no Brasil por duas temporadas e, além de ganhadores de importantes provas grupadas brasileiras, deu um ganhador do importantíssimo Pellegrini. Shirocco e Manduro, alemães, ambos filhos de Monsun, eleito Chefe de Raça, têm características diferentes, mas ambos no mais alto nível internacional. Shirocco era especialista em 2.400 metros, e o eventual aumento da distância ainda mais o favorecia. Foi considerado o melhor cavalo do mundo em um ano. O irmão Manduro tinha ainda mais qualidades, era mais versátil, melhor, ótimo na milha para cima até 2.400 e, também, foi eleito o melhor do mundo em outro ano. Tinham temperamentos diferentes, Shirocco era muito manso e de uma beleza fora do comum; Manduro era genioso, menos tranquilo, mas de um poderio locomotor impressionante.
Em 2012 veio também em “shuttle”, o irlandês Roderic O’Connor, o primeiro macho filho daquele que é considerado o melhor garanhão do mundo nos tempos moderno, o irlandês Galileo. Por falar em Roderic O’Connor, que poderá voltar em “shuttle” para o Brasil em 2013, apresento como resultado de sua atividade em 2012 números compatíveis com a sua qualidade e sanidade. Recebeu mais de 100 éguas, com um índice de prenhes de 87,2%. Muitas éguas, alto índice de aproveitamento. Mas há também, só para se falar de garanhões importados mais recentemente, dois sediados definitivamente no Estado do Paraná. Um deles é o japonês Agnes Gold, que logo em seu inicio no haras produziu animais de especial qualidade, e de um modo geral todos os filhos bons corredores. O outro é o irlandês Silent Times, importado através do expert Samir Abujamra. A primeira geração desse irlandês está por estrear, muitos puxam pelo tipo pujante de pai.
Os criadores brasileiros, naturalmente, os mais sabidos e inteligentes, entendem que é mais seguro e normal abastecerem-se de sangues nobres veiculados por corredores europeus que mostraram pelo menos uma ponta de classe, do que comprar bagaço, sucata norte-americana só porque é barato. Isso é claro, na impossibilidade de trazer cavalos de real qualidade e não dependentes de drogas.
Na prática, os fatos têm mostrado que o caminho para o sucesso no Brasil passa pela Irlanda, pela Alemanha e mais recentemente, pelo Japão. O bom negócio é procurar o bom, o sadio e saudável.