No sábado dia 15 de dezembro de 2012, realizou-se no lindo Hipódromo de San Isidro, em Buenos Aires, a mais prestigiada prova turfística sul-americana, o tradicional Gran Premio Carlos Pellegrini. No dia, as três provas internacionais que precederam a mais importante, os também internacionais 1.000 e 1.600 metros para machos e fêmeas, e os 2.000 metros só para éguas, não traduziram resultados animadores para o turfe brasileiro. Especialistas em provas de velocidade, com a própria criação utilizando-se, em larga escala, de animais norte-americanos emprenhados pelo delírio da precocidade e rapidez inicial, com programações habituais quase que só em provas abaixo da milha, com a fixação em tempos recordes, manifestada pela colocação do partidor 20 metros antes do marco zero da distância, a fim de que os corredores já passem em movimentos acelerados pelo verdadeiro inicio do páreo e com isso apresentando tempos que, conforme a distância chega a mais de um segundo e, além de tudo, com a permissibilidade absurda na ministração de remédios. A não ser que um competidor estrangeiro seja um verdadeiro fora de série, os animais argentinos dominam.
Assim, o domínio da velocidade se estende até as boas provas até 2.000 metros, mas daí por diante, vem à realidade, campeões argentinos como Atlas, Arturo A, Tatan, Yatasto e Mangangá, entre muitos que fizeram lendas e que, na reprodução simplesmente sumiram, muitos se mostraram até inférteis em consequência do absurdo abuso de fortes medicações, levaram tudo isso a um presente argentino triste. Para que volte a pujança do turfe argentino devem se passar muitos anos, pois é necessária a libertação das drogas, da influência do rico circo turfístico norte-americano, a melhoria da cultura dos profissionais que em sua quase totalidade só sabem treinar dando remédios e obrigando seus cavalos a fazerem fortes partidas sob a vigilância de cronômetros e, ainda, uma curiosidade, qual seja, os jóqueis de reais alta qualidade e destaque no turfe argentino são estrangeiros, vide o uruguaio Irineo Leguisamo, o também uruguaio Pablo Falero e o campeoníssimo brasileiro Jorge Ricardo. Não estou dizendo que não haja bons jóqueis argentinos, mas dentre os bons, os realmente melhores, os destaques são os estrangeiros.
Mas voltando à tarde no Pellegrini, o destaque local era um bom potro de 3 anos, que naturalmente foi o favorito. Mas mostrando na prática um respeito aos cavalos brasileiros, o que era incomum há anos atrás, o segundo na preferência das apostas foi uma parelha brasileira, formada por Dídimo, com o excelente Antonio Correa da Silva (A.C. Silva) e Kará de Birigui, que ia com um dos melhores jóqueis da nova geração brasileira, Francisco Leandro (F. Leandro). Havia, ainda, outra parelha brasileira formada por Going Somewhere, com o veterano jóquei Nelito Cunha, e Gober, com Nelson Alexandre dos Santos (N.A. Santos).
A tabela de pesos do turfe argentino é muito antiga, em muito favorecendo os potros de 3 anos, que levam 54kg, ou de 4 anos com 6kg mais, 60 kg, e os de 5 e mais anos com ainda mais 1kg, isto é, 61kg. A enorme e injusta vantagem a favor dos 3 anos, 6kg para os de 4 anos e 7kg para os de 5 e mais anos, tem através dos anos, em muito influenciado os resultados. No entendimento geral, mesmo dando boa vantagem de peso, Dídimo era o melhor brasileiro.
No páreo, o que se viu foi Kará de Birigui assumir a liderança e, com aparente facilidade, livrar cerca de 5 corpos na frente, onde comandou o lote em toda a maravilhosa reta oposta de cerca de 1.200 metros (com o prolongamento, foram 2.400 metros com uma só curva, um espetáculo). Enquanto isso, Dídimo e Going Somewhere ficavam por volta do 6º e 8º lugares, muito bem posicionados. Na reta, Kará de Birigui, que já entrara na curva mostrando uma ponta de cansaço, sumiu, e apresentaram-me muitos pretendentes à vitória. O favorito argentino apresentou-se com autoridade e parecia que iria vencer, mas aproveitando-se de um caminho milagroso e providencial que apareceu perto da cerca interna, o que foi muito bem aproveitado pelo experiente Nelito Cunha, Going Somewhere emparelhou por dentro e livrou pequena vantagem. Foi quando apareceu atropelando por fora Dídimo, em magistral joqueada de A.C. Silva, que fora poupado ao máximo possível no percurso, para um violento arremate. Mas Dídimo não seguiu no seu impetuoso ritmo, descontou e encostou, mas não passou. O páreo terminou com uma brilhantíssima vitória do potro brasileiro Going Somewhere, com 56kg (N. Cunha não fez os 54 permitidos), com o potro argentino com 54kg a pescoço em 2º, e Dídimo com 60kg em ótimo 3º distante um corpo ou um corpo e meio.
Corridas são corridas, e o resultado é a ordem em que os competidores passam pelo disco. Honra ao mérito de Going Somewhere. Mas a injusta tabela de pesos, antiga e já de em muitas oportunidades favorecendo muito os mais novos, já está sendo alterada no mundo do turfe civilizado. Entre outros, o Japão, a Irlanda e a França já encurtaram bastante a diferença de pesos entres os 3 anos e os de 4 e mais, não havendo diferença entre os de 4 anos e mais idades. É o reconhecimento mundial de que os potros de 3 anos de hoje são muito mais precoces e maduros do que antigamente, e que não há mais sentido os de 4 anos levarem vantagem dos de 5 e mais anos. Essa modernidade já está em prática nos turfes mais civilizados, e o Jockey Club Brasileiro já tomou providências nesse sentido a partir de janeiro de 2013. Ao que se saiba, o Jockey Club de São Paulo entendeu de não mudar, pelo menos por enquanto. E, quanto aos outros países sul-americanos, certamente vão como de praxe aguardar a palavra do turfe argentino, que nesse tipo de detalhes, é ainda mais devagar.
O que importa para nós é mais uma vitória (a sexta da Criação Brasileira) no Pellegrini, com também um ótimo 3º. O ganhador Going Somewhere é um potro paulista de 3 anos, de criação e propriedade do Haras Phillipson, em Americana. Perdeu em 4 apresentações antes de alcançar a sua primeira vitória, o que se explica pelo seu pedigree, um filho de Sulamani em filha de Special Nash. Sulamani foi um fundista com importantes vitórias, em três países diferentes, e costuma imprimir a sua qualidade de apreciador das distâncias maiores. Going Somewhere ganhou duas corridas, uma em 2.400 e outra em 3.000 metros. A sua segunda vitória não lhe deu melhores créditos, pois a turma não era forte e o tempo da prova apenas razoável. Mas no Pellegrini mostrou-se bom, valente e lutador.
Mais uma vez, confirma-se a melhor diretriz do turfe brasileiro, ante aos demais países sul-americanos. Enquanto os nossos vizinhos não se adequarem à realidade mundial, isto é, dizerem NÃO às drogas e melhorarem a maléfica cultura dos 6 furlongs, isto é, pautarem suas práticas pela cultura europeia em lugar das influências do rico circo turfístico norte-americano. Enquanto isso permanecer, o turfe brasileiro vai continuar a encontrar facilidades.
Só para finalizar no tocante às tabelas atuais de pesos, no mesmo dia do Pellegrini, foi corrido em Cidade Jardim o Grande Prêmio Consolação, em 3.000 metros, para produtos de 3 e mais anos. Os três primeiros foram potros de 3 anos, os três com 51kg. Serão necessários ainda, mais exemplos e explicações?