Elpenor, El Asteróide, Goethe (Milton Lodi) » Jockey Club Brasileiro - Turfe

Elpenor, El Asteróide, Goethe (Milton Lodi)

      O gênio turfístico do grande criador francês Marcel Boussac fazia com que ele, periodicamente, mandasse éguas para serem cobertas na Inglaterra. Ele tinha uma égua de nome Liberation, filha do tríplice coroado inglês Bahram, que ele mandou para ser coberta por Owen Tudor, um fundista inglês filho do imortal Hyperion. O potro que nasceu tinha tudo de bom, porte físico, beleza, e sobretudo qualidade. Especializado em distâncias grandes, Elpenor encantou a França, a Inglaterra, e o resto do mundo turfístico europeu, pois, sempre imprimindo em suas carreiras um ritmo que lhe convinha, sempre mandando no páreo, com muita qualidade nas lutas e uma incomum demonstrada vontade de vencer, Elpenor ganhou no mesmo ano os 4.000 metros do Prix do Cadran e os 4.000 metros da Ascot Gold Cup, sendo que em um desses páreos lutou o percurso inteiro com um outro excelente fundista francês, cabeça com cabeça por cerca de 2.000 metros, e na linha de chegadas, por pequena diferença, venceu o que tinha mais vontade de ganhar.

elpenorTerminada a campanha nas pistas, havia dúvidas quanto ao sucesso na reprodução de um fundista, embora Elpenor(foto) não tivesse sido um atropelador, um galopador, mas um combativo participante dos páreos desde as largadas. O inesquecível criador gaúcho do Haras do Arado, Breno Caldas, símbolo da criação no Rio Grande do Sul, comprou Elpenor por alto preço internacional. E ele desde logo correspondeu, dando filhos muito bons, não só no Rio Grande do Sul como no Rio de Janeiro.

O inesquecível turfista carioca Mário Cerqueira Teixeira de Souza, o Mario C T, em suas várias viagens por São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, tornou-se amigo de Breno Caldas, e, como habitual comprador de potros, em certo ano comprou toda a produção do Arado, entre 10 e 15 potros e potrancas. Após as vendas de cerca da metade, entre os que com ele ficaram estava El Asteróide, um potro de tamanho médio, cabeça expressiva, e muito manso. Foi uma boa geração, dela saiu El Centauro, que montado por Albenzio Barroso, foi um bom segundo no Grande Premio São Paulo vencido por Moustache. Mas no grupo do El Asteróide, que era um Elpenor em linha feminina sul-americana (Alcazar), havia um potro muito promissor, que corria bem colocado e tinha uma forte atropelada na reta final, que o Mário entendia, pelos trabalhos, que ele era o melhor de todos. Ainda com 3 anos de idade, no início de suas campanhas, o Mário inscreveu de parelha o El Asteróide, para fazer ritmo da corrida correndo na frente, e o tal bom, que corria bem colocado para uma pretensa forte atropelada na reta. E quando todos esperam a atropelada do bom, El Asteróide firmou-se na ponta e venceu por boa margem e com autoridade. Foi aí, segundo me disse o Mário, que ele percebeu que El Asteróide tinha as características do pai Elpenor.

el asteroideDaí por diante, El Asteróide(foto) sempre corria na ponta, e era melhor quando as distancias eram maiores. Não era um cavalo de Grupo I, mas um bom Grupo II. Venceu por duas vezes os 3.000 metros do Grande Premio Bento Gonçalves, e quando da terceira tentativa, venceu bem como de costume, mas o páreo foi anulado por problemas no partidor, alguns animais não largaram, e o aviso do juiz de partida não foi visto ou entendido pela grande maioria dos concorrentes. Logo que possível, com o páreo sendo corrido com El Asteróide na ponta, os alto falantes do hipódromo informaram que o páreo não estava valendo, a partida havia sido anulada. Após o triste episódio, a Comissão de Corridas marcou para o domingo seguinte a realização do páreo. E pela quarta vez, valendo três, El Asteróide venceu o Bento de ponta a ponta, em 3.000 metros. El Asteróide ainda tentou mais um Bento, mas já não era o mesmo, a idade maior já o havia alcançado.

Corrido pela 1ª vez atrás, poupando energias, por lá ficou, e acabou encerrando a sua campanha. Foi para a reprodução no Haras Nacional, de Armando Rodrigues Carneiro, que à época ficava em Teresópolis, RJ. Alguns anos depois, eu li na revista semanal das corridas, uma das que antecederam a atual Revista Turfe Brasil, que o Haras Nacional oferecia à venda de um dos seus reprodutores El Asteróide ou Fragonard, a escolher. Encontrei-me nas corridas com o Armando, com quem eu me dava muito bem, e perguntei se era mesmo para escolher. Ele disse que sim, no Haras ele só tinha acomodações para dois garanhões, e como ele havia comprado nos Estados Unidos um tordilho de nome Hang Ten havia que abrir um espaço, e o que sobrasse ficaria como um cavalo estepe, recebendo uma ou duas éguas por ano, só como garantia em caso de eventual emergência. Eu disse que gostaria de ficar com o El Asteróide, e oferecia como contrapartida três éguas cheias de uma lista de 5 éguas, à escolha dele. Ele aceitou, e uma das três, de nome Vodka, deu-lhe logo um excelente corredor, Vonarrab.

El Asteróide já chegou no Ipiranga com mais de 16 anos de idade, e com a informação que tinha fertilidade limitada. Mas eu queria dar uma injeção de Elpenor e El Asteróide em minhas éguas, reforçar uma velocidade inicial ao mesmo tempo que ampliar as distâncias. Essas características já vinham de Elpenor, continuavam com El Asteróide embora com menos classe e categoria, mas eu contava com a excelência do meu plantel de éguas. Dei 5 éguas para o El Asteróide, ele encheu 4, e eu fiquei torcendo por fêmeas. As três primeiras me deram potrancas, e justamente a quarta, a melhor, me deu um macho. As potrancas foram boas corredoras, com cerca de 4 vitórias cada. O macho era forte, tamanho médio, que esperei para estrear com 3 anos de idade, e em distancia mínima de 1.600 metros. Após três colocações, em um domingo em Cidade Jardim, quando Goethe chegou em 3º me desiludindo, veio falar comigo o Ministro Cirne Lima, que assistira o páreo. Ele queria me dar uma informação. Os descendentes de Elpenor tinham a propensão de terem testículos muito grandes, e no ardor da competição, era comum que eles se comprimissem um com o outro, e a solução era simples, mandar um veterinário tirar um deles, mantendo a fertilidade e acabando com o problema da fricção. Fiz o que me foi sugerido, e uns 10 ou 15 dias depois, sem quaisquer problemas, o Goethe voltou a trabalhar. Ganhou logo na primeira vez após a operação, e eu, sempre atento ao fato das especiais qualidades de Elpenor e El Asteróide, inscrevi Goethe nos 3000 metros do Grande Premio Consagração, a 3ª prova da tríplice coroa paulista. O Bolino estava machucado, não podia montar, e ele me indicou para substituí-lo o ótimo Ivan Quintana. Na hora dos jóqueis montarem, eu pedi ao Quintana que corresse na ponta, sempre mandando no páreo. Quando Goethe entrou na raia, o Bolino me disse que o Goethe não podia ganhar com as instruções recebidas. Eu respondi que ele nunca tinha ouvido falar de Elpenor e de El Asteróide. Goethe ganhou o seu Grupo I de ponta a ponta. Quando encerrou a campanha, tinha obtido 7 vitórias e várias boas colocações. Foi um corredor que deixou saudades.

 

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