Um dos cavalos mais conhecidos foi MOSSORÓ, o ganhador do primeiro Grande Prêmio Brasil, em 1933. O turfe brasileiro melhor, de mais significativa importância, surgiu no final dos anos 20 e no início dos anos 30, com as implantações do Jockey Club de São Paulo com o seu então novo Hipódromo de Cidade Jardim, e do Jockey Club Brasileiro com o seu Hipódromo da Gávea. O Hipódromo de Cidade Jardim era alimentado pela criação paulista, tecnicamente a melhor do turfe brasileiro, enquanto o Hipódromo da Gávea, situado em um Estado sem condições e sem perspectivas de produzir animais de boa qualidade, utilizava-se de animais que vinham do Rio Grande do Sul e do Paraná com criações dependentes de suas ótimas condições naturais, com terras e climas que permitiam um capim generoso. São Paulo tinha uma criação com certa sofisticação, com importação de cavalos e éguas de padrão bem superior e a utilização de técnicas importadas de centros europeus, de mais importantes padrões.
Assim, o Haras São José, localizado em Rio Claro, SP, e o Expedictus, em Botucatu, SP, do grande benemérito do turfe brasileiro Linneo de Paula Machado, e o Haras Mondesir, do benemérito Antônio Joaquim Peixoto de Castro Jr, em Lorena, SP, ambos os criadores domiciliados na cidade do Rio de Janeiro, dominavam as corridas no Jockey Club Brasileiro, mas uma terceira força veio do nordeste brasileiro para se juntar aos bons.
Frederico João Lundgren de origem sueca, grande proprietário de terras em Pernambuco, homem também de grande fortuna, entendeu de implantar no município de Paulista,PE o Haras Maranguape. Frederico João Lundgren, assim como Linneo de Paula Machado, viajava muito pela Europa, e enquanto Linneo concentrava-se na França Lundgren ficava pela Irlanda, onde montou um Haras de nome Stud Caicó. Linneo baseava a sua criação paulista com importações francesas, formando uma base feminina e resultados extraordinários, sendo que os turfistas brasileiros lembram-se bem de fundamentais éguas que correram no Brasil como Tacy, Mirthee e muitas outras, além do cavalo incrível Formaterus. O Dr. Peixoto ia mais além, comprava o que havia de melhor basicamente na Inglaterra, e entre muitos outros momentos importantes no setor, trouxe para o Brasil o garanhão inglês então considerado o melhor do mundo, King Salmon, que foi sucesso sem precedentes. Lundgren se abastecia na Irlanda, com continuas importações de machos e fêmeas. Os antigos se lembram de nomes como Jacques Emile Blanche, Eagle Rock Denbigh, e vários outros.
Em 1932, com o então Presidente do JCB, Linneo de Paula Machado, em uma de suas costumeiras viagens para a Europa, o então Diretor Secretário Adhemar de Faria, fraterno amigo de Antônio Joaquim Peixoto de Castro Jr desde os tempos da Faculdade de Direito, estudaram um ambicioso plano do Dr. Peixoto, visando à promoção de uma enorme venda de bilhetes pela Loteria Federal, por ele administrada, de nome Sweepstake, que na manhã da realização do Grande Premio Brasil de 1933 haveria um sorteio público atribuindo a cada um dos concorrentes um dos bilhetes numerados, e assim, com cada competidor defendendo um bilhete, seria atingida uma promoção inédita e vultuosa, com um prêmio maior de, inacreditáveis na época, 300 contos de réis para o proprietário do bilhete vencedor. Quando Linneo chegou da Europa, encontrou um esquema pronto, e apesar de no princípio entender como uma loucura, acabou por concordar. Os bilhetes de Sweepstake foram espalhados por todo o território brasileiro, e todos vendidos. Assim, em agosto de 1933, em pista de grama pesadíssima, com o prado superlotado e grande quantidade de jornalistas, pelo meio da pista e em violenta atropelada, o tordilho pernambucano Mossoró, nascido no Haras Maranguape e nascido em outubro de 1929, derrotou animais da Inglaterra, França, da Argentina, e do Uruguai. Linneo concorreu com uma importada francesa de nome Tacy, o Dr. Peixoto com um macho campeão uruguaio de nome Bambu, e um grande e forte lote de qualificadas, importadas por largas somas.
Mas, afinal, quem era Mossoró ? Tinha porte físico médio, muito cabeçudo, e bom corredor, havia vencido o Grande Prêmio Cruzeiro do Sul, o Derby carioca, mas mesmo assim a sua espetacular vitória nos 3.000 metros do GP Brasil de 1933 foi uma surpresa. Mas, afinal de contas, quem era Mossoró? Tratava-se de um filho de Kitchner, um cavalo nacional de campanha não registrada nos registros oficiais brasileiros, que tinha por pai o norte americano Novelty importado por Linneo em 1911, e que teve pequena produção. Dizem que esse Kitchner foi dado de presente pelo Dr. Linneo ao Frederico João Lundgren, como incentivo para que ele criasse no Haras Maranguape. Mas por motivos desconhecidos, provavelmente pelo fato de Lundgren dispor de importados muito mais pretensiosos, na verdade Kitchner ficou desaparecido, a não ser por figurar como pai de Mossoró.
fotos: Arquivos JCB