Confira abaixo a entrevista com Marcos Ribas de Faria, também conhecido como Escorial (na foto ao lado), forma como sempre assinou suas colunas sobre turfe.
Qual é a sua função junto à diretoria do JCB?
MR: Sou um consultor. Antes, de 1987 a 2001, fui o handicapeur.
Há quanto tempo você vem exercendo essa função atual?
MR: Comecei em 2008, por indicação do Lineuzinho (Paula Machado) e do Sérgio (Barcellos), começando a refazer a programação clássica e dando ideias ocasionalmente. Depois, a partir de 2011, acho, a coisa ficou mais recorrente e sólida.
Qual é o maior desafio para se montar uma boa programação clássica?
MR: Simplesmente montar uma programação clássica é um grande desafio, ainda mais pela época em que deve, por lei, aqui ser feita: no meio no ano hípico. O que, no mínimo, não é bom. Afinal, o ano hípico, de 1 de julho a 30 de junho, é o que vale.
A elaboração do novo calendário clássico carioca considerou a implementação do sistema de ratings pela IFHA?
MR: Considerou e nem podia deixar de considerar. Até porque isso foi pedido pelo Cieran Kennelly, o consultor do comitê internacional que esteve no Brasil. Mas ele falou muito em termos brasileiros, isso tem que ser realçado. Da programação às tabelas de peso. E é algo que nós turfistas temos que realmente começar a pensar. Isto é, não de forma regional, mas de forma nacional. Fugir do turfe carioca versus turfe paulista ou vice-versa, coisas deste tipo. E, por exemplo, como a tão citada e, a meu ver, fundamental Pedra Única, mergulhar fundo no turfe brasileiro como alicerce e objetivo.
E agora com o novo posicionamento do Grande Prêmio Brasil na temporada clássica, passando para o segundo semestre hípico, a prova passa ser mais seletiva e melhor colocada?
MR: Certamente. Passa a ser para produtos de três anos e mais idade, como todas as grandíssimas carreiras internacionais, do Arc de Triomphe, a meu ver a maior, à Hong Kong Cup. Um avanço mais do que respeitável. Imprescindível.
Isso era um anseio de muitos, você poderia citar alguns nomes que buscavam desde muito esta mudança?
MR: Roberto Seabra era um. Mestre Samir Abujamra (à esqueda na foto, ao lado do nosso entrevistado) era e é outro. Também o Affonso Burlamaqui e o Amilcar Turner de Freitas, com quem trabalhei no JCB de 1992 a 1996. Isso para citar alguns.
Em relação à tríplice-coroa, a antecipação para o primeiro semestre hípico é uma mudança importante?
MR: Pessoalmente acho que sim. Muito. Com o plus, para meu olhar, fundamental, se ela for BRASILEIRA. O que, para mim, deve ser. Aliás, algo que já houve, com sucesso, de 1961 (quando Emerson venceu no dia 15 de novembro o Derby Brasileiro, o Cruzeiro do Sul, e três semanas depois, o Derby Paulista no primeiro domingo de dezembro, que continuou a ser normalmente disputado mesmo não fazendo parte da tríplice coroa brasileira) a 1965, ano da vitória de Nageur no Cruzeiro do Sul. Roberto (Seabra) sempre foi um que pensou assim. Entre outros mil motivos, por isso também, ele foi o que foi como criador, proprietário e turfman. O que ele representou, representa e representará. Sempre.
Como essas mudanças poderão ajudar o turfe do Rio de Janeiro, em relação aos ratings?
MR: A partir do momento em que se insere, teórica e tecnicamente, em ditames internacionais históricos, até bem anteriores à adoção oficial dos ratings, o que é importantíssimo. Mas não só o carioca e sim o brasileiro. Os ratings vieram, estão aí e devem ser levados em consideração obrigatoriamente. Mesmo que sejam em determinados países criticados em como eles são atribuídos, por serem, digamos, mais comerciais do que técnicos em seus objetivos e nos seus norteamentos, além de tentarem ser quase puramente objetivos, deixando, em segundo plano, o olhar de cada um. Esses passaram a ter que seguir regras determinadas com tintas matemáticas. Como dizia um grande criador brasileiro, a magia apaixonante dos cavalos PSI está no coração dos mesmos, no mistério da classe. E é claro que as corridas, como consequência, carregam ou devem carregar isso. Algo mais poético, digamos assim. Mas, como disse, os ratings vieram, estão aí, são uma realidade, têm a sua importância inegável, mesmo que devam ser sempre objetos de reflexão e discussão. Aliás, como tudo na vida, não somente eles. Ainda que não devendo simplesmente apagar as nossas características, eles podem ajudar muito no processo de nosso aprimoramento. Não se pode ignorá-los e se viver como numa ilha ou numa bolha. São mais um exemplo da tão famosa globalização. Que não haja certezas absolutas, verdades inquestionáveis, mas que as dúvidas permaneçam para alimentar as mais do que necessárias reflexões. Do contrário, caminha-se para a estagnação, o que é letal. E aí me vem mais forte ainda a necessidade imperiosa, não só na teoria, mas na prática, de um turfe BRASILEIRO, como disse antes e faço questão de repetir.
Quais são as principais alterações que os turfistas do Rio de Janeiro irão perceber na tabela clássica da temporada 2013/2014?
MR: Acho que o Brasil no segundo semestre hípico da temporada. O eixo muda. Tudo vai tendo que ser ajustado. Provas que eram no primeiro semestre hípico, passaram para o segundo, e vice-versa. Assim, algumas chamadas foram, obviamente, adaptadas e mudadas. Falei vai tendo porque é um período de transição, um “work in progress”, e é assim que eu a leio e que gostaria que ela fosse lida. Isso, mesmo que procurando manter algo que comecei a desenhar desde que, digamos, retornei ao JCB (e continuo a desenhar) que são os chamados meetings, ou festivais como alguns preferem. Pode até ser uma ferramenta para o marketing, etc… E isso falo além daquele do GP Brasil. Tem menores como os das provas das tríplices coroas, com destaque para o existente no final de semana do Cruzeiro do Sul, o das preparatórias para o Brasil, por exemplo. Mas, volto a bater na tecla, tudo só alcançará o patamar realmente mais correto, quando isso tudo for pensado em termos de turfe brasileiro como norte, mesmo não esquecendo o turfe carioca e o turfe paulista como elementos componentes e importantes. Mas a serviço do turfe brasileiro, como não me canso de falar.
E para a temporada de 2014/2015?
MR: Isso ainda está em processo, para mim, de reflexão. Aliás, é o meu motor. Mas sempre o Brasil e as tríplices coroas como os alicerces e os dados referenciais. E isso sem esquecer o GP São Paulo e o turfe de Cidade Jardim como partes integrantes e importantes do panorama, na esperança de se chegar – desculpe por repetir – a um turfe verdadeiramente brasileiro. Assim como, é claro, o Cristal e o Tarumã, cada um a seu modo. Sonho? Pode ser. Mas, como o grande Calderón de La Barca, no período áureo do teatro espanhol, disse, a vida é sonho e sonhar é viver.
Da Redação – Fotos: Arquivo JCB