Qual é a sua função junto ao Comitê de Ratings?
RR: Sou o Handicapper brasileiro que representa nosso país nos Congressos realizados no exterior. Como estive presente desde o I Encontro de Handicappers da OSAF, aprendendo com o consultor da Federação Internacional, Ciaran Kennelly, toda a metodologia, acabei sendo indicado como handicapper titular. Eu proponho os ratings brasileiros ao grupo, hoje formado pelo Samir Abujamra e pelo Vicente Britto e, após discutirmos, coloco-os no sistema internacional (um website a que todos os handicappers do mundo têm acesso). Após isso, defendo esses ratings nos congressos regionais (OSAF) e agora nos mundiais (Paris e Hong Kong, os principais).
Porque o rating é importante para os criadores, proprietários e para o turfe em geral?
RR: Os ratings são utilizados desde há muito tempo como forma de comparar cavalos de diferentes idades, enturmações e distâncias. Passou a ser, com o correr do tempo, não apenas uma ferramenta para estudar os ganhadores dos páreos, mas principalmente um instrumento para medir a qualidade das provas. Para o criador pode ser importante saber que rating uma determinada égua ou garanhão alcançou na campanha. Há cavalos que ganharam G1 mas que têm rating inferior a um cavalo que, por exemplo, nem tenha vitória em prova de grupo. Os ratings dão uma ideia de qualidade, que é medida não pura e simplesmente pelo “nome” das provas vencidas, mas sim pela turma enfrentada. Nos países principais os turfistas em geral têm acesso aos ratings dos animais que vão correr uma prova clássica, por exemplo. Aqui no Brasil nem os hipódromos, tampouco a Revista Turf Brasil têm o hábito de publicá-los. Na Argentina e no Uruguai desde 2011 os ratings nos clássicos são informados no Programa Oficial.
Como funcionam os ratings e para que eles servem?
RR: Na esteira da resposta acima, eles funcionam como um elemento de padronização, de referência. Por outro lado, são também o instrumento do handicapper para, em sendo o caso, equilibrar uma carreira. O número em si está em libras e representa o peso que um jóquei deslocaria sobre o cavalo examinado. Teoricamente, utilizando-se os ratings como peso dos jóqueis num determinado campo de prova, você teria um Handicap, ou seja, um páreo em que o equilíbrio seria a tônica, todos com chances equivalentes. Uma libra é equivalente a 0,453Kg. Significa dizer que se vários cavalos fossem correr uma prova de handicap cada piloto montaria com o peso equivalente ao rating do respectivo cavalo. Por exemplo: Se fossem correr num handicap o Aerosol (115lb é seu rating); o Baccelo (110lb); o Holding Glory (113lb); o Jiraya (108lb); o uruguaio Imperrito (113lb), o argentino Calidoscópio (114lb), o americano Game on Dude (124lb) e o alemão ganhador do derby francês Intello (120lb), teríamos os pesos assim: Aerosol (52kg); Baccelo (49,5kg); Holding Glory (51kg); Jiraya (48,5kg); Imperrito (51kg); Calidoscópio (51,5Kg), Game on Dude (56kg) e Intello (54kg). Se incluíssemos, por exemplo, o Frankel nesse páreo, seu jóquei iria com 63,5Kg.
Quantos países são signatários do acordo internacional que estabeleceu o sistema de ratings e quais os mais importantes?
RR: Hoje são 32 países que adotam o sistema, praticamente todos os principais do planeta. Para citar: Inglaterra, França, Irlanda, Estados Unidos, Austrália, Alemanha, Itália, Japão, Nova Zelândia, Malásia, Emirados Árabes Unidos, Cingapura, Hong Kong, o bloco da Escandinávia, todos os países da OSAF, África do Sul, Canadá e Turquia.
O Brasil aderiu e vem participando das reuniões que determinam os ratings dos animais?
RR: Toda a OSAF aderiu em 2010, quando foi realizado o I Encontro de Handicappers, em Buenos Aires. A partir daí foram realizados 10 encontros nos quais o Brasil participou de todos e inclusive sediou um deles, no Rio de Janeiro. Um representante da OSAF vinha participando das reuniões anuais em Hong Kong, em 2010 e 2011 como ouvinte e a partir de 2012 como votante. Em 2013 todos os países da OSAF, do Livro I, ou seja, sem o Uruguai, já terão seus handicappers na reunião de Hong Kong com direito de voto.
O que esse sistema pode alterar na “grupagem” das provas brasileiras?
RR: Na verdade o que a Federação Internacional sempre diz é que é ela a titular das provas de grupo mundo afora. Ou seja, os Jockeys Clubes detém os “nomes” das provas, mas não a valoração delas. Existe dentro da Federação Internacional um comitê chamado IRPAC que justamente analisa a qualidade das provas de grupo. Se um país deseja promover uma prova de grupo 2 para grupo 1, quem dá essa autorização final é o IRPAC, após analisar e votar o pleito. O que acontece é que o que justifica ou não um upgrade é a qualidade técnica da prova, ou seja, a média dos ratings dos 4 primeiros colocados nos últimos 3 anos. Não se esquecendo que essa média é feita considerando o melhor rating dos 4 primeiros na temporada correspondente. O IRPAC pretende que cada Comitê Nacional de Provas de Grupo faça esse acompanhamento, avaliando suas própria provas e assim, a cada ano, comunicando na reunião do IRPAC os ajustes técnicos necessários, propondo rebaixamentos e upgrades. Isso já acontece há anos nos países europeus e no bloco chamado asiático, com Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. Os países da OSAF nunca fizeram isso, sequer ratings faziam de maneira apropriada, de acordo com a metodologia mundial. Então corríamos o risco de termos nossas provas rebaixadas sem critério algum, numa “canetada” do IRPAC, considerando a quantidade de provas de grupo que temos proporcionalmente a outros países que fazem avaliação técnica, vão aos congressos e etc. Hoje nós aqui no Brasil temos um Comitê de Provas de Grupo que se reuniu duas vezes em agosto e setembro e a OSAF terá sua primeira reunião do Comitê Regional de Provas de Grupo agora em novembro. Tendo ratings feitos com regularidade desde 2010, é possível que haja uma análise técnica por parte desses comitês para avaliar a qualidade das nossas provas. Tecnicamente, então, pode haver mudanças nas provas de grupo brasileiras sim, mas se fizermos tudo da forma correta, seremos nós mesmos que apresentaremos as mudanças pertinentes.
Em outros países a graduação das provas vem sofrendo alterações?
RR: Sim, essa metodologia explicada acima já acontece há anos. Não é à toa que a Itália, por exemplo, tem apenas uma prova de G1 para os 2 anos. O tradicional Poule d’Essai des Poulains francês estava correndo risco ano passado, entrando na zona de tolerância para ser rebaixado a G2.
Como você vê a alteração da data do GP Brasil a partir de 2014?
RR: Olha já me manifestei nesse sentido. Tecnicamente, a média de ratings do GP Brasil é boa e não precisaria haver alteração. Mas sempre foi estranho iniciar a temporada hípica com o GP Brasil, logo em agosto, comparando gerações de 4 e 5 anos, algo que no mundo todo não existe. Como já falei, o GP Brasil em agosto equivaleria a Breeders Cup ser corrida em fevereiro, ou o Arco do Triunfo ser corrido em março, por exemplo, algo inconcebível, por se tratar do gran finale da temporada. Nossa temporada hípica inicia-se em julho, então agosto seria equivalente a fevereiro no hemisfério norte, quando nem sequer as provas de tríplice coroa começam.
Algum país do mundo tem duas tríplices coroas reconhecidas internacionalmente?
RR: Vamos lá, consultando o Livro azul 2013: A Argentina agora tem uma tríplice coroa de potros e potrancas e a chamada Tríplice Coroa de San Isidro, machos e fêmeas (1000 Guineus e 2000 Guineus, Jockey Club e Pellegrini); o Brasil tem 6 tríplices coroas e os demais países todos têm, no máximo, uma de machos e outra de fêmeas.
E sua opinião a tríplice coroa deve ser corrida no primeiro ou no segundo semestre hípico?
RR: Acho que uma tríplice coroa tem que ser feita no decorrer da evolução da geração de 3 anos. Esse é o desafio. A tríplice coroa do Rio de Janeiro possibilita que um potro tenha corrido um Derby em 2400m, um Pellegrini contra os mais velhos e depois, dois meses depois, inicie a disputa partindo da milha até outro Derby, com quase 4 anos. A bem da verdade, não é a única. O Hipódromo de Greyville, na África do Sul, embora sem o nome de Tríplice Coroa, tem a sua milha em maio (é Gr.2), os 2000m em junho e seu Derby (Durban Derby) em 2200m em julho. A troca de idade ocorre em agosto. A Tríplice Coroa oficial, entretanto, tem Gauteng Guineas, SA Classic, SA Derby correndo em fevereiro, março e abril. Em todos os outros países ao menos o início se dá no primeiro semestre da idade hípica.
No hemisfério sul: Argentina: Polla, Jockey Club e Nacional – setembro, outubro e novembro; Uruguai: Polla, Jockey Club e Nacional – setembro, outubro e novembro; Chile: El Ensayo, St Leger, El Derby – novembro, dezembro e fevereiro (2400m, 2200m e 2400m, porém); Peru: Polla, Ricardo Ortiz de Zevallos; Derby Nacional e Gran Premio Nacional (setembro, outubro, novembro, janeiro).
Os países do hemisfério norte correm equivalente a: EUA: Kentucky Derby, Preakness e Belmont (novembro, novembro e dezembro); Inglaterra: Guineus, Epsom Derby, St. Leger (novembro, dezembro, março); Alemanha: Mehl Mulhens-Rennen, Deutsches Derby, Deutsches St. Leger (novembro, dezembro, março); Japão: Guineus, Japanese Derby, Japanese St. Leger (outubro, novembro e abril) e etc.
Você acha que os Jockeys Clubes deverão adequar as chamadas clássicas visando garantir os ratings de suas provas?
RR: Sim, isso é de suma importância. As provas principais devem proporcionar intercâmbio, os melhores sempre correndo juntos. Basta ver o caso do ultimo Salgado Filho. Os melhores arenáticos milheiros, mais velhos e mais novos, puderam se enfrentar num valioso embate, embora numa noturna. Não tem cabimento São Paulo ter um G3 para potros de 3 anos uma semana antes do GP Paraná, praticamente na mesma distância e pista. O que está acontecendo? O nível tanto do G3 de São Paulo quanto o do GP Paraná estão caindo.
Da Redação – Fotos: Arquivo JCB, Luiz Melão e Internet