Sergio Coutinho Nogueira. Um nome que para o amigo turfista soa bem familiar. Também, Dr. Sergio neste momento, pode ser colocado como um dos homens mais importantes para o turfe brasileiro tamanha é a sua ajuda e contribuição para as corridas de cavalo. Além de titular do Haras Regina, um dos mais tradicionais do Esporte dos Reis no país, ele ainda é presidente da A. B. C. P. C. C (Associação Brasileira de Criadores e Proprietários de Cavalos de Corrida), presidente do Conselho Técnico da OSAF (Organizacion Sudamericana de Fomento del Puro Sangre de Carreira) e ainda é dono da revista Turf Brasil. Com tantos compromissos no meio do turfe, fica difícil de imaginar que o coração (grande coração, diga-se de passagem) deste turfista ímpar pudesse ser ocupado por outro esporte, ou melhor, outros esportes.
Sergio Coutinho Nogueira, simplesmente, é apaixonado por Jogos Olímpicos. Este sentimento é tão grande, que segundo ele mesmo, compara-se ao turfe. Por conta disso, todos os animais criados em seu haras começam pelo nome de “Olympic”. Seu amor pelas Olimpíadas começou quando ainda era criança e assistia as disputas pela televisão ao lado de familiares. O interesse foi aumentando quando em 1986 Dr. Sergio Nogueira criou uma equipe de atletismo. A equipe deu tão certo que foi campeã brasileira da modalidade anos depois. Hoje este homem multi-tarefas, que se prepara para acompanhar a sua 6º Olimpíada “in-loco”, é diretor-técnico do Clube BM&F Bovespa, um dos principais clubes de atletismo do Brasil, em termos de estrutura e de resultados. Com um personagem tão importante e com tantas histórias para contar, o site do JCB teve o privilégio de conversar com Dr Sergio Coutinho Nogueira aproveitando o clima dos Jogos Olímpicos do Rio, que terá a sua abertura realizada nesta sexta.
Confira a entrevista na íntegra:
INÍCIO DO AMOR POR OLIMPÍADA
É uma coisa muito engraçada. Comecei com essa paixão quando eu tinha uns 12 para 13 anos e acompanhava as competições de atletismo pela televisão nos Jogos Olímpicos. Mas a coisa ficou séria mesmo em 1986, quando eu criei uma equipe de atletismo. Batalhamos tanto e a coisa deu tão certo que anos depois fomos campeões brasileiros. A partir daí eu passei a me dedicar para esse lado e não parei mais. Fui presidente da Federação Paulista de Atletismo (1990/2000), secretário municipal de Cultura, Esportes e Turismo de Campinas, diretor da Confederação Brasileira de Atletismo e fui nas últimas cinco Olimpíadas.
OLIMPÍADAS QUE PARTICIPOU
Como eu disse, fui nas últimas cinco Olimpíadas assistir no local dos jogos. Em duas delas fui como torcedor mesmo. Mas em Atlanta 96, fui como dirigente da Federação Paulista de Atletismo, e em 2000 (Sydney) fui como chefe da delegação. Foram momentos muito bons de se viver, conhecendo a cultura e o jeito de cada país organizar um evento como este. De todas essas, Sydney foi a melhor organizada, de longe. Pequim, em 2008, estava ótima, mas víamos que a cidade estava artificialmente preparada para aquilo, não era algo natural. Atlanta foi maravilhoso, mas Londres (2012) também teve suas qualidades.
CHANCES DOS “SEUS” ATLETAS EM 2016
Temos de falar uma coisa: Olimpíada é muito difícil. Com os nossos atletas, temos chances de ganhar de zero a duas medalhas. Temos a grande estrela, que é a Fabiana Murer, tem muitas chances de ganhar medalha. Tem ainda a chance da Erica Sena, que foi quarta no mundial. Ela pode tanto ser primeira colocada quanto quinta. Então não dá para fazer muita coisa quanto a isso, nos resta torcer. Marcha atlética é difícil, mas ela está no páreo.
FABIANA MURER
A Fabiana começou com a gente ainda em 97, vi toda a carreira dessa menina. Torço muito por ela e sei que possui grandes chances de fazer história. Nas duas últimas Olimpíadas ela teve problemas, mas muita gente não entende que isso acontece mesmo. Em Pequim, sumiram as varas que ela iria saltar. Como era muito nova, ficou nervosa, reclamou e ficou sem condições emocionais de saltar. Isso prejudicou muito. Mas acredito que tenha sido mais coisa da idade. Já em Londres quatro anos depois, estava ventando muito. Ela preferiu não saltar. Mas o que ninguém sabe é que no mesmo dia uma alemã quebrou a perna por saltar com a vara errada. Outras se machucaram. Isso é um problema que acontece. Temos plena confiança nela.
Dois momentos que eu jamais vou esquecer: a medalha de ouro da Mauren Maggi. Uma mulher, em um esporte individual conseguir uma medalha de ouro é algo incrível e eu vi pessoalmente isso. Outro momento que ficará eternizado é a medalha de bronze do Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona, em Atenas (2004). Mesmo depois de todos os problemas no caminho, ele se recuperou e conseguiu a medalha.
JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016
Na minha opinião, acredito que o Rio de Janeiro não deveria ter se candidatado para sediar os jogos. Acredito que isso tenha sido fruto de muita propaganda política, a intenção foi mostrar outra coisa. Acredito que a Copa do Mundo é algo mais fácil de se fazer, pois é dividido em outras sedes. Olimpíada é concentrado em uma cidade só. Fica complicado. Apesar de tudo isso que eu falei, acredito que faremos bons jogos, mas mais pelo jeito do povo brasileiro, principalmente o carioca, que gosta de receber bem as pessoas.
TURFE E ATLETISMO
Sempre dividi bem o meu tempo quanto a isso. Mas no período entre 2000 e 2005, eu tive de me afastar um pouco do turfe, pois a maioria das corridas são nos finais de semana, assim como no atletismo. Eu estava acompanhando mais clássicos. Foi um período de cinco anos que tive de me dedicar mais a um esporte. Contudo, percebo que consigo dividir bem isso.
Tivemos um grande ano, de excelentes vitórias para gente. Ganhamos algumas provas clássicas, ganhamos o Grande Prêmio São Paulo e fiquei satisfeito com a nossa temporada. O vencedor do São Paulo, Universal Law, já está nos EUA, se aclimatando para fazer carreira por lá. Mas a temporada já passou, estamos pensando nesta nova. Em relação a isso estamos com grandes expectativas. Temos uma geração boa de 2 anos. Não dá pra dizer muita coisa, mas gostei muito do Olympic Galaxy. Pode não ser nada, mas no turfe, nos alimentamos de ilusão. O amor por este esporte faz com que a gente acredite em alguns animais simplesmente pelo sonho de ele ser um campeão. O turfe tem dessas variáveis.
APOSENTADORIA
Não penso. Eu faço tudo com muito amor e enquanto eu tiver disposição e amor, vou fazendo tudo. Por exemplo, esses próximos dias serão corridos demais. Estarei em São Paulo na ABCPCC entre os dias 10 e 11. Logo depois, vou para o Chile, para um evento da OSAF. Volto para o Rio para acompanhar as provas clássicas do dia 14. A partir daí, já fico direto para acompanhar os Jogos Olímpicos. Pode parecer muita coisa, mas quando estamos de coração aberto, fazendo com amor, tudo dá tempo!
Por Emerson Silva e Sylvio Rondinelli Fotos: Arquivo e site www.clubedeatletismo.org.br