Campeão do Grande Prêmio Brasil, W. S. Cardoso mira a Breeders’ Cup: ‘Gostaria muito de lutar por mais essa conquista’ » Jockey Club Brasileiro - Turfe

Campeão do Grande Prêmio Brasil, W. S. Cardoso mira a Breeders’ Cup: ‘Gostaria muito de lutar por mais essa conquista’

BRASIL (4)Wesley Matheus da Silva Cardoso, nascido no Rio de Janeiro, que viveu a maior parte de sua vida em Magé, Região Metropolitana, sempre sonhou em trabalhar com cavalos. À principio, a vida de peão de rodeio era o grande objetivo da vida deste garoto, então com 13 anos de idade. O alto risco por conta das constantes quedas dos atletas fez com que o pai de Wesley, Pedro da Silva Cardoso, vetasse a ideia. Quis o destino que durante as várias vindas à região do Jockey Club Brasileiro, Pedro tivesse a brilhante ideia de trazer Wesley para conhecer e, de uma vez por todas, fazer valer o sonho do garoto de trabalhar com os animais. Até entrar na Escola de Profissionais do Turfe, o menino ainda teve de esperar completar 16 anos, o mínimo para ingressar na escolinha. Este tempo foi usado por Wesley para conhecer melhor turfe. 

Histórias como esta fazem parte da vida de muitos atletas que, quando se consagram, são contadas e passam a ser de conhecimento de todos. E no último domingo, W. S. Cardoso passou a figurar neste seleto grupo de esportistas, após vencer a maior prova do turfe nacional, o Grande Prêmio Brasil (GI), montando o animal My Cherie Amour. Ainda sem ter muita noção, ou melhor, como ele mesmo diz, sem ter caído a ficha, o piloto vem tentando voltar à rotina normal. Sempre com seu jeito simples, W. S. Cardoso só não esquece a sensação de cruzar o disco para levantar o principal troféu do prado carioca.

– É uma sensação inexplicável. Eu estava montando pela primeira vez o Grande Prêmio Brasil e consegui vencer. Isso é muito gostoso, só a gente mesmo que passa ali sabe o que está acontecendo, ainda estou com essa sensação – afirmou.

O site do JCB conversou com o grande herói do Festival do Grande Prêmio Brasil que, além de ter conquistado o páreo àpice da semana, ainda passou na frente em outras quatro carreiras.  Muito feliz com o momento, o garoto contou sobre tudo o que ele passou para chegar até a conquista, além das pessoas que o ajudaram. Ele ainda colocou o seu principal objetivo em pauta: 

– Minha ideia é montar o My Cherie Amour na Breeders’ Cup, em novembro. Ainda não conversei com o proprietário e nem com o Venâncio, mas ganhamos a vaga e eu gostaria muito de ir lá lutar por esta competição.

matinais (64)Confira a entrevista completa com o campeão do Grande Prêmio Brasil (GI):

WSCardoso200x150INÍCIO DE CARREIRA

Sou de Magé, o meu pai sempre vinha aqui ver os alunos galoparem na raia, ele sempre quis me trazer para o Jockey. Sempre gostei de rodeio, não havia montado PSI na minha vida. Eu costumava levar as fitas de rodeio e meu pai via as quedas dos peões e se preocupava com aquilo, por isso ele sempre me cortou, nunca deixou eu ir. Nos dias que eu me inscrevia nos rodeios mirins, ele me cortava. Mas eu tinha na minha cabeça que eu queria trabalhar com cavalos de qualquer jeito. Ele começou a vir aqui trazer alguns operários para uma obra que ele trabalhava aqui perto. Pediu para entrar e conhecer como é que funcionava Jockey. Nisso, ele foi até a escolinha e pegou todos os documentos necessários para me matricular na EPT. Esperei ainda dois anos para entrar, já que eu só tinha 14 anos na época. Tive muita paciência. E foram dois anos que eu comecei a conhecer o turfe, serviu para eu entender um pouco.

 PERÍODO NA EPT

Em janeiro de 2013 eu ingressei na escolinha e foi aí que começou tudo na minha vida. Junto comigo, entraram M. S. Machado, I. R. Mendes e B. Pinheiro. Na época, já estavam lá alguns aprendizes também. Oito meses depois eu fiz a minha estreia. Eu ainda demorei um mês para ganhar a primeira corrida. Não completei o tempo necessário para passar de categoria (4ª para 3ª), mas fiquei sete meses como aprendiz de 3ª, mais sete meses como aprendiz de 2ª e depois mais quatro meses como aprendiz de 1ª. Virei jóquei em março do ano passado. Cumpri todas as etapas com  muita tranquilidade e dando o máximo da minha capacidade.

 VIRADA  PARA JÓQUEI

Quando você passa a aprendiz de 1ª categoria, você já é praticamente um jóquei. Procurei me dedicar ao máximo para não deixar a peteca cair. Passei a trabalhar cada vez mais para conseguir me firmar. Tudo que eu aprendi na escolinha, comecei a colocar em prática. Na escolinha eu tinha nutricionista, pessoas para te orientar, mas depois não tem mais ninguém. Se você não se dedicar, vai ficar complicado. Sofri bastante. Todos os alunos que passam a ser jóquei sofrem, dá uma caída, fica sozinho, isso desanima um pouco. Mas eu sempre mantinha o que foi ensinado por lá, para não desanimar.

MOMENTO COMO JÓQUEI PLENO

Não esqueço de uma égua que eu montei chamada Picolina Bela. Foi a primeira vez que eu dei um palpite que deu certo. A CARDOSO (6)história foi a seguinte: esta égua sempre trabalhou bem. O trabalhos dela eram muito bons a ponto de ganhar por 100 metros os seus páreos. E ela deu uma parada grande, já tinha feito alguns segundos, alguns terceiros lugares. Nessa volta, ela não chegou a trabalhar bem, conforme vinha trabalhando. Falei pro treinador que ela não estava trabalhando do jeito normal. Passamos a não forçar. Ganhamos por 100 metros a corrida seguinte, foi um vareio. Vi ali que ela não gostava de ser forçada. Passamos a trabalhar leve com ela e ganhamos os outros dois páreos seguintes à fio. Eu era novo e vi ali que já estava entendendo um pouco de estratégia, foi instinto, vi que tinha nascido para fazer isso.

RETIRADA DO MY CHERIE AMOUR DA PREPARATÓRIA

O que aconteceu ali ainda não tem explicação, eu trabalho ele e ele nunca havia feito isso. Não corremos a preparatória e até hoje isso me intriga. Seguimos trabalhando e não deu mais nenhum problema. Fiquei muito triste por ele não ter entrado naquele dia. É um animal muito forte, não conseguiram colocá-lo no box mesmo com toda aquela força. Tentamos o máximo, mas não conseguimos. 

DECISÃO DE CORRER O GP BRASIL

O Venâncio já havia conversado comigo sobre a possibilidade. Acabaram decidindo entrar no Brasil. Passei a semana que antecedeu o páreo bem tranquilo, não fiquei nervoso. Em nenhuma hora eu me apavorei, somente em um momento: na hora de entrar no box do Grande Prêmio Brasil, passou um filme na minha cabeça. Como ele é um cavalo muito forte, muito bruto, eu sabia que se ele se negasse a entrar no box por duas vezes, iria ser retirado do páreo. Então, procurei fazer um cânter bem calmo, ir relaxando ele. Vinha à passinho com ele, bem devagar, conversava com ele e deixava o cavalo perto de outros. Depois que ele entrou, dei uma respirada e sabia o que eu teria que fazer.

BRASIL (16)PERCURSO DO GRANDE PRÊMIO BRASIL

Com a raia pesada, eu sabia que iria ser igual pra todo mundo. Se a raia está seca, ninguém ganharia da égua, ela é muito boa. Mas não me preocupei com ninguém, procurei fazer a minha corrida, pois ali eu sabia que iriam sair um cuidando do outro. V.Gil atrás do H. Fernandes e o L. Henrique atrás do V.Gil. Todos esperando o erro do outro. Para mim, quem correu mais tranquilo foi o Ricardinho, correu sem se preocupar, lá atrás. Em nenhum momento me desesperei, quem está na frente ou não. Quando cheguei na reta, o Leal colocou na frente e eu fiquei sem passagem. Por isso eu vim tirando. Eu entrei por dentro em penúltimo e sabia que alguém iria cansar e iria abrir para mim. Na altura dos 400 metros ele viu aquele clarão e seguiu. Sabia que iria dar e conseguimos. Em nenhum momento ele me pediu pra correr, eu sempre galopando e ele tranquilo.

FICHA QUE AINDA NÃO CAIU

A ficha não caiu. Ganhei um páreo importante no dia anterior e me emocionei, mas no Grande Prêmio Brasil, eu não tive noção do que estava acontecendo. Alguém me falou: “Você acabou de ganhar o Brasil” e eu disse: “Tá bom, que legal”. A ficha não havia caído mesmo naquele momento. Acho que até agora não caiu.

MEMBROS DA EPT QUE FIZERAM PARTE DA CONQUISTA

Quando eu entre na escolinha, nunca havia saído de casa. Aqui você tem de ficar internado, não dá pra voltar .BRASIL (14) Isso me deixava muito triste, pois eu sentia muita saudade. Marcello Cardoso, Seu Machado, Seu Audálio, o Raphael Miranda, a Mayra Frederico. Poxa, toda vez que batia um desânimo, ficava em um canto sozinho, alguém chegava para ajudar. Lá, eles estão sempre de olho em você para saber como você está emocionalmente. A Mayra acabou me chamando na secretaria e perguntou se eu queria ficar 15 dias em casa. Disse: “Descansa lá, depois você volta” mesmo assim era duro.  Isso tudo me marcou. E hoje só tenho que agradecer a todas essas pessoas, que me fizeram mais forte.

TÍTULO DEDICADO AOS FAMILIARES

Dedico a minha família minha mãe (Rosana), meu pai (Pedro), em especial. Ele sempre me incentivou, dizia que não tinha nada em casa para mim, que o meu futuro era aqui dentro. Eu tenho uma avó que está bem velhinha, a Dona Nadira, eu sempre pedi a Deus que não levasse a minha avó enquanto eu não ganhasse um grande prêmio e agora que ganhei, estou bem mais tranquilo. Minhas irmãs Camila e Ana Clara eu não posso esquecer também. O Danilo, meu agente de montarias, e o treinador Alcides Morales, que me ajudou muito no início da minha carreira. Dedico a essas pessoas este título. 

Por Emerson Silva e Sylvio Rondinelli Fotos Sylvio Rondinelli

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