Uma vida de lutas, vitórias e amor, muito amor pelo Jockey Club Brasileiro. Com esses adjetivos para lá de sentimentais é que o site do JCB começa uma série especial com os principais personagens do Hipódromo da Gávea. Pessoas simples e guerreiras que dedicaram a vida na construção e na manutenção deste lugar que é referência e que abriga o mais do que nobre Esporte dos Reis. Nesta semana, José Machado da Silva Filho, ou J. Machado, ou ainda Seu Machado, mais de 50 anos de dedicação ao turfe, revela como foi a sua carreira nas pistas e fora delas, quando passou a se dedicar a revelar talentos na Escola de Profissionais do Turfe.
Ao ouvir alguém falar em “Seu Machado” dentro do JCB, logo os mais saudosos do turfe antigo, remetem ao grande jóquei que foi. Vencedor de inúmeros páreos importantes e tricampeão das equilibradas e disputadas estatísticas do prado carioca, Seu Machado relembra com carinho a sua fase piloto. Por influência do irmão mais velho, que também montava, nascia ali, por volta de 1963, um inesquecível condutor de puro-sangue inglês.
– Me orgulho muito da minha carreira. Montei com grandes jóqueis como A. Barroso, que foi líder e grande vencedor em São Paulo. J. Queiroz, Francisco Esteves, F. Pereira Filho, Paulo Alves e muitos outros. Cheguei a montar com o Rigoni, Jeferson Bafica, sou muito amigo dele, inclusive. Montei com muitos desses e bastante jóqueis de qualidade – disse.
Depois de encerrar a carreira em 1994, o convite para ser instrutor da Escola de Profissionais do Turfe caiu como uma luva. Não poderiam ter escolhido pessoa melhor. Um verdadeiro prêmio para quem tanto gosta do local e das pessoas que aqui trabalham. E o amor que já era grande dentro do peito, passou a tomar conta de todo coração.
– É igual a um jogador de futebol que passa a ser técnico. Eu já conhecia do esporte e para mim foi um grande orgulho. Trabalho aqui nesta função já há 29 anos. Aqui eu consigo ensinar e ficar satisfeito com o meu trabalho – revelou.
CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA COM O GRANDE SEU MACHADO:
INÍCIO DE CARREIRA
Eu tinha um irmão mais velho chamado Renato Machado, ele montava em São Vicente. Então, era uma coisa que quando um pai faz e o filho faz igual. Audálio Machado, meu outro irmão, veio para o Rio em 1959. Aproveitei que ele estava aqui e vim para cá em 1963. Desde então eu estou no Jockey. Estou aqui há…é só fazer as contas (Risos).
MELHORES RESULTADOS DA CARREIRA
Ganhei três vezes as estatísticas, sendo que uma delas eu empatei com o J. Queiroz. Foi muito comentada, pois o empate é muito difícil de acontecer. De 1967 a 69, foi a minha melhor fase, foi quando eu montei os melhores cavalos para ganhar corridas.
MELHORES CAVALOS
Eu tive poucos contratos na minha vida. Mas montei para o Lineu (de Paula Machado), que era o grande proprietário da época. Tive a chance de montar para muitas coudelarias, mas poucos contratos para ganhar ordenado por mês. Eu dependia de ganhar as corridas. Mas eu montava muito. Em uma reunião de quatro dias, eu montava cerca de 25 a 30 vezes. O melhores cavalos que eu montei foram El Santarén, Dominó e o Fragoná.
MOMENTOS DE DIFICULDADE
Uma das lembranças que me marcam muito foi quando eu levei um tombo em 1967. Tive fratura de crânio, fiquei internado durante um mês e fiquei seis meses para me recuperar. E também levei um tombo em São Paulo, quando montei lá e fiquei bastante tempo para me recuperar. Fraturei cinco costelas e perfurei o pulmão. Nessa vez eu quase que fui…
ESCOLA DE PROFISSIONAIS DO TURFE
Parei em 1994. Eu estava montando bem menos e com a intenção de parar. Aí me convidaram para ser instrutor na escola de aprendizes (Escola de Profissionais do Turfe). É igual um jogador de futebol que passa a ser técnico. Eu já conhecia do esporte e para mim foi um grande orgulho. Trabalho aqui nesta função já há 29 anos. Aqui eu consigo ensinar e ficar satisfeito com o meu trabalho.
TRABALHO DIÁRIO NA EPT
Eu acordo às 4 da manhã e começo chamando os garotos para ir para raia. Eu e o rapaz que passa a noite aqui, acordamos juntos esses meninos. Eles ficam lá até às 9hs. Quando eles chegam eu dou aula para os mais novos, os que chegaram a pouco tempo. Converso muito com eles, dou orientação ensino algumas coisas. Sou auxiliar do Marcello Cardoso e nos dois, juntamente com os demais funcionários, formamos um time aqui dentro. Estou aqui sempre para ajudar.
ESTRELAS QUE AJUDOU A REVELAR
Enquanto estive aqui muitos já passaram e viraram grandes jóqueis. Marcello Cardoso, Vagner Borges, Dalto Duarte, Alex Mota, Henderson Fernandes, Fausto Henrique entre outros. Me orgulho muito disso.
L. HENRIQUE, LÍDER DAS ESTATÍSTICAS
Leandro Henrique já chegou pronto de Pernambuco, já tinha umas 30 vitórias por lá. Quando ele chegou aqui, só precisamos dar alguns ajustes, algumas orientações. Ele corre bem e tem muita sorte. Porque digo isso? Digo isso, pois o jóquei depende muito do cavalo, ter estrela e ele tem muita estrela. O jóquei pode ser um craque, mas se não tiver cavalo, não adianta. Então o jóquei que tem estrela vai longe. Pega sempre boas montarias e se dá bem. E ele está com muitas chances e tem muitas possibilidades de ser o ganhador das estatísticas desta temporada. Será uma coisa inédita, um aprendiz ganhar as estatística geral é incrível, nunca aconteceu Mas essa é a chance de um aprendiz ganhar a estatística geral.
EQUIPE UNIDA PARA LIDAR COM OS GAROTOS
Tem uma grande equipe aqui que lida com emoção desses garotos. Eu sou instrutor, tem um rapaz que trabalha aqui à noite também. Eu sou mais um instrutor. A gente conversa muito, mas não faço nada sozinho. Como eu falei, temos uma equipe grande aqui e cada um desempenha a sua função da melhor forma. Se precisar conversar com um garoto, eu faço, sem problema nenhum, ajudar em outra função, com o maior prazer. Mas tenho sempre que exaltar essa equipe que trabalha sério e unida. É um grande prazer trabalhar com esta equipe.
JOCKEY CLUB BRASILEIRO
O Jockey Club Brasileiro é a minha vida. Estou há tanto tempo aqui…até me emociono ao falar…isso aqui é minha família, é tudo para mim. Eu quero sair daqui direto para o cemitério, não quero embora nunca. Agradeço a Deus todos os dias por essa chance de viver e conviver aqui dentro do Jockey Club Brasileiro.
Por Emerson Silva e Sylvio Rondinelli Fotos: Arquivo pessoal e Sylvio Rondinelli