Momentos inesquecíveis (13), por Milton Lodi » Jockey Club Brasileiro - Turfe

Momentos inesquecíveis (13), por Milton Lodi

             No borbulhante mundo das corridas, os prognósticos e palpites são uma tônica. Todo mundo acha alguma coisa, e as informações são sempre bem recebidas.

            Esse negócio, essa mania, do turfista em geral querer saber quem vai ganhar, é universal. Estudos nas revistas especializadas, informações dadas profissionalmente por jornalistas, palpites de treinadores e jóqueis; de tudo isso o apostador procurar apurar quem vai ganhar, mas não é tão simples assim.

            O meu pai tinha um cavalo castanho escuro chamado LABANO, de criação do Haras Bela Esperança, que ia correr em um último páreo no sábado, véspera de um Grande Prêmio Brasil. LABANO era um corredor de páreos comuns, mas de um modo geral apresentava-se bem. Pela manhã na cocheira, o treinador Claudemiro Pereira, me disse que o cavalo estava muito bem, mas havia três animais no páreo que eram superiores a ele. LABANO obteria um quarto lugar, com certeza. Cheguei ao prado antes do primeiro páreo, encontrei-me casualmente com o jóquei Candido Moreno, que ia montar LABANO, que, sem saber da opinião do treinador, me disse que não seria possível ganhar daqueles tais três competidores, mas ele garantia um quarto lugar. Em meio ao desenrolar do programa, apareceu um jornalista com um microfone na mão, e entendeu de me entrevistar, ainda mais que eu, filho do dono do LABANO, poderia ter ótimas informações. Naturalmente, eu me referi às conversas com Claudemiro e o Moreno, disse mais alguma coisa e fui para as arquibandas assistir as corridas. Em resumo, o páreo do LABANO foi muito intrincado, muito disputado, e acabou que o LABANO ganhou, pagando uma pule enorme. Nos dias seguintes, parecia que todos os turfistas do Brasil haviam ouvido a tal entrevista, por onde eu andava, todo mundo se referia à minha “derrubada”.

            Uns anos depois, eu tinha em um dos sábados, duas inscrições de potrancas perdedoras, CREPPE SUZETTE em 1.000 metros na grama, e CRYSALIDE, em 1.200 ou 1.3000 na areia. No meio da semana, andando pela cidade, fui gentilmente interrompido por um desconhecido turfista, que me disse ser um apostador inveterado, e que acompanhava os meus cavalos. Ele gostaria que eu lhe desse informações sobre as corridas das duas potrancas. Eu ponderei que a CREPPE SUZETTE só havia corrido uma vez, tinha tirado um excelente segundo e que deveria ser a favorita do páreo, mas que havia sido informado que de São Paulo, correia no páreo uma potranca do Haras Faxina, que era uma extra série, com um trabalho espetacular. Sendo assim, eu achava que era mais segura uma aposta na CREPPE SUZETTE no placê. Quanto à CRYSALIDE, que era estreante, tinha bons trabalhos, tinha qualidade e deveria estrear ganhando. O turfista foi muito gentil, ficou muito agradecido, despediu-se e foi embora.          No sábado, CREPPE SUZETTE chegou em 2º e CRYSALIDE em 1º. Na semana seguinte, veio novamente o tal apostador a se encontrar comigo, e em meio a uma série de lamentações, ele acertava, pois ele havia ficando tão bem impressionado com o 2º lugar de CREPPE SUZETTE, na estreia, que achava quase impossível que ela perdesse, que eu naturalmente havia me confundido, me enganara. Ele jogou forte na ponta da CREPPE SUZETTE e fraco no placê da CRYSALIDE. Isso é típico dos “catadores de barbadas”.

            No que diz respeito à informações, aconteceu comigo fato singular. Em uma sexta-feira, antevéspera de um Grande Prêmio São Paulo, o veterinário, Professor José Tabarelli, eu supriu, por um mês, as férias do Dr. Reiner, me disse que havia sonhado com um cavalo negro, de longos bigodes, que corria em último pelo centro da pista, com as pontas do bigode raspando as cercas interna e externa. Na última reta, ele avançara derrubando todos os competidores com o vasto bigode, vencendo o páreo sob as risadas e os aplausos dos assistentes. Achei graça, mas surpreso ficou o Dr. Tabarelli, quando soube que o meu cavalo que ia correr o GP São Paulo, chamava-se MOUSTACHE (em francês, bigode). Levei o caso na brincadeira, e disse ao bom veterinário que, ou era uma brincadeira dele ou uma informação do além. No domingo da corrida, quando cheguei ao prado, antes do primeiro páreo, fui logo abraçado pelo amigo e veterinário Carlos Eduardo Sales Gomes, que me disse ter sonhado nitidamente com a vitória do MOUSTACHE, e que o único cavalo argentino do páreo chegara em 5º. Prometi uma garrafa de whisky se o sonho se concretizasse. Não sei se foi outra mensagem do além, mas na verdade, tive que dar a tal garrafa. Os acontecimentos confirmaram as sonhadas informações. Três meses depois, MOUSTACHE foi ao Rio correr o Grande Premio Brasil. Sentiu, chegou em último. No dia seguinte, segunda-feira, fui às corridas em São Paulo, e um funcionário antigo e, por todos conhecido, chamado Benedito, logo me entregou uma carta colada, com uma rubrica sobre a data do recebimento, no sábado, dois dias antes. Abri, era do Sales Gomes, dizendo que conforme novo sonho, nova informação do além, o MOUSTACHE iria chegar em último, algo “sentido”, e que o ganhador seria um argentino. Eu guardo essa carta, já mostrei a muitos.

            Nos concursos de palpites, dos quais fazem parte, profissionais do turfe e da imprensa, o índice médio de acertos é pequeno, e só melhoraram quando vingam os favoritos.

            Apostador gosta de acreditar em historinhas, e se elas fossem em sua maioria confiáveis, treinadores e jóqueis não iriam correr diariamente atrás do dinheiro, desde às cinco horas da madrugada.

            A corrida se realiza para saber-se quem é o vencedor, como saber o ganhador antes que ela se processe? É conhecida a habitual sorte daqueles que vão às corridas pela primeira vez, a famosa “sorte dos principiantes”, que aposta nas fardas que acham mais bonitas, nos cavalos “branquinhos” ou de “caras brancas e pernas brancas”, nos de nome mais curiosos ou significativos para o apostador, nos de números de preferência, etc. Os novatos, por nada entenderem nem ouvindo informações e palpites, acertam mais do que erram. Mas já da segunda vez em diante, já ouvindo os “conhecedores”, ouvindo palpiteiros, colhendo informações, integram-se à grande legião de perdedores.

            Mas isso não é só no turfe. Uma vez, andando pela cidade, tive que correr para me proteger sob uma marquise, fugindo de repentina chuva. Lá estavam três apostadores do jogo do bico, sentados com canetas e bloquinhos nas mãos e, naturalmente, protegidos por um policial fardado que estava por perto. Perguntei a um dos receptadores do jogo, qual seria um bom palpite, em função da chuva que caia. Ele me respondeu com uma informação: um bicho que gostava de água era o jacaré. Fiz uma pequena aposta no jacaré e segui o meu caminho. No fim da tarde, voltei para saber o resultado. Dera gato. Interpelei o apontador, se havia bicho que não gostava de água era o gato. A informação dele e o palpite, fora um desastre. Ele me respondeu que não. A informação e o palpite tinham que ser interpretados, se assim não fosse todo mundo acertaria no jogo do bicho.

            Informações e palpites, assunto complicado. A não ser que venham do além.

Gostou da notícia? Compartilhe!

Pular para o conteúdo