Rio – São Paulo, dezembro de 2012, por Milton Lodi » Jockey Club Brasileiro - Turfe

Rio – São Paulo, dezembro de 2012, por Milton Lodi

Durante muitos anos os turfistas e os profissionais, quer dizer, os proprietários e os treinadores do Jockey Club Brasileiro, só tomavam conhecimento da íntegra do calendário clássico no início do ano seguinte. Com cerca de dois meses de atraso. O trabalho que, obrigatoriamente, deve vir a público em meados de novembro, só depois do meio de fevereiro é que se tomava conhecimento, e em doses homeopáticas eram publicados na revistinha do Jockey Club Brasileiro os páreos de janeiro e inicio de fevereiro. Esse desserviço era praticado por um handicapeur desmerecedor de confiança, que preparava um calendário tradicional, quase obsoleto, sem inventiva e/ou modernidades, tudo dentro de um esquema quase secreto. Os tempos custaram, mas mudaram e após 1992 o calendário do Jockey Club Brasileiro, já em mãos de um expert, Marcos Ribas, passou à modernidade, mas sem desprezar as boas tradições. Desde então, cada ano e dentro do prazo, os proprietários, os treinadores e os turfistas de um modo geral, ficam a par do que lhes é oferecido.

Em São Paulo, a não ser recentemente com a eleição da atual Diretoria, foi mantido um clima tradicional, mas sempre com as publicações nos devidos prazos, sob o comando do saudoso Thomas Teixeira de Assumpção Júnior, o “Seu” Thomazinho e do seu fiel discípulo e seguidor Arthur Francisco. A essas duas importantes figuras do turfe paulista deve-se um longo e competente trabalho. Com a eleição da atual Diretoria do Jockey Club de São Paulo, influências de recentes novos enfoques da atividade vindo da Europa, foram cautelosamente sendo inseridos no Calendário Clássico paulista, sob a orientação de José Luiz Polacow, o nome adequado para a Presidência da Comissão de Corridas. Modernidades foram introduzidas, além de serem levadas em consideração os calendários mútuos, o do Rio e o de São Paulo.

Como os dois Clubes são distintos, de culturas turfísticas diferentes, sem que fossem violentadas as individualidades, e dentro do escopo da maior harmonia possível dos dois calendários, melhoraram as chances de aproveitamento das inscrições dos cariocas e dos paulistas. Cada calendário suprindo eventuais espaços técnicos um do outro.

Só como simples exemplos, de dois Clubes diferentes, mas que mantêm as suas individualidades em clima da maior concórdia, pode-se citar: A) Raias de Grama – B) Agarradeiras – C) Ferrageamento – D) Descargas nos pesos das joquetas.

No item Raias de Grama, o Rio contratou o técnico Paulo Nania, que após reconstruir a respectiva pista da Gávea, em trabalho que impediu a utilização por cerca de 10 meses, implantou um sistema de irrigações periódicas e a colocação de cerca móvel que varia a cada semana, indo de zero metro a 3, 6, 9, e 12 metros, com isso mantendo o piso em ordem, e com uma tabela de alteração da raia de grama para a de areia levando em consideração às turmas. O ótimo resultado na Gávea também agradou São Paulo, que tem clima diferente, muito mais chuvoso e com um piso ruim e irregular. Paulo Nania foi contratado e a raia de grama de Cidade Jardim passou de ruim a boa, seguindo instruções do bom técnico.

No tocante às Agarradeiras, os dois Clubes têm a mesa orientação, são proibidas.

Quanto ao Ferrageamento, no Rio há duas opções, ferraduras de alumino nas 4 ou desferrados. Como a raia de grama é bem cuidada, de um modo geral o seu estado é macio, não maltratando os cascos dos animais. Em São Paulo são usadas ferraduras de alumínio nas 4 e ferraduras de alumínio nos anteriores e filetes de ferro nos posteriores, sendo proibido correr desferrado. Há muitos anos, o filete de ferro foi introduzido em São Paulo, porque, à época, e segundo os profissionais, o material do alumínio usado na confecção das ferraduras era fraco, pouco consistente, ficava deformada ou mesmo quebrava. Daí o filete de ferro nos posteriores foi introduzido.

No Rio, as ferraduras de alumínio e também as de ferro, eram fabricadas por Luiz Quintanilha, o “Seu” Lulú, e eram ótimas. Quanto à proibição de correrem animais desferrados, em São Paulo, ela é atribuída à palavra dos veterinários, que dizem, de consequentes dores e lesões provocadas pela falta de proteção.

Quanto aos Pesos de Descargas nos animais montados pelas joquetas a título meramente promocional e nada técnico, ficaram instituídos 2kg desde a 4ª categoria de aprendiz até inclusive, a matrícula de joqueta. Rio e São Paulo acordaram essa prática. No Rio, com o correr do tempo essa promoção mostrou-se ruim, pois, como mero exemplo, uma joqueta de 4ª categoria levava 6kg de vantagem, quando dentro de cada turma entende-se, fundamentalmente um pelo menos, aparente equilíbrio de forças e na prática chegou-se ao absurdo da joqueta, com a enorme e injusta vantagem, atingir ainda como aprendiz a liderar a estatística, refletindo o desequilíbrio da enorme vantagem. O Rio resolveu minimizar o problema. Poderia até ter mantido 1kg e só já como joquetas, mas acabou estendendo o 1kg desde as aprendizes de 4ª categoria, aceitando no caso uma vantagem de 5kg. Mas foi o que ficou decidido, no Rio, independentemente do seu momento profissional, as mulheres levam 1kg como aprendizes, de acordo com as suas categorias, e também como joquetas. São Paulo não concordou, e manteve indiscriminadamente os 2kg. São Paulo tem hoje a metade das joquetas do Brasil, cerca de 5 em 10. Essa maior atração para as mulheres-joquéis pode até carrear maior interesse para as meninas que desejem ingressar na Escola e seguir a profissão, é uma promoção de certo vulto, mas tecnicamente é um exagero.

Esses quatro exemplos mostram que o Jockey Club Brasileiro e o Jockey Club de São Paulo são irmãos, têm os mesmos objetivos, amigavelmente procuram se entrosar, mas são independentes, são diferentes, têm ideias e práticas próprias. São culturas turfísticas diferentes.

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