Ex-Presidente do JCRGS, vice-presidente da ABCPCC, coordenador do GT do Turfe e Presidente da Câmara de Equideocultura do MAPA, Flávio Obino Filho, titular do Stud Casablanca/Haras Capela de Santana é o convidado especial da coluna de entrevistas do site do Jockey Club Brasileiro, Papo de Turfe.
Como conheceu o turfe?
FOF: Tenho fotos no Hipódromo do Cristal dentro de um moisés – hoje bebe conforto – com menos de dois meses de idade. Eu cresci dentro do Jockey. O turfe sempre esteve presente na minha vida. Quando criança devorava as Turf Fomento, Turf de Bolso (corridas de Porto Alegre) e O Coruja; passava os dias narrando corridas em páreos que eram disputados nas pistas da “corrida mágica” (cavalos eram cápsulas de remédio com esferas de chumbo); e quando caminhava no centro da cidade invariavelmente imaginava um disco de chegada em algum ponto e disputava corridas imaginárias com os outros transeuntes, que sempre eram ultrapassados no último pulo. Meu pai sempre manteve cavalos de corrida e em 1974 formou o Haras Capela de Santana. Em 1984 passamos a criar em regime de pensionato, mas nunca paramos. Em 1998 criei o Stud Casablanca que venceu quatro estatísticas de proprietários no Cristal, obteve 90 vitórias clássicas e 10 recordes. Empolgado com os resultados retomei as atividades do “Capela de Santana” em estabelecimento próprio a partir de 2004 e em 2011 conquistamos pela primeira vez a estatística de criadores do Cristal.
O que as corridas de cavalos representam para você?
FOF: As corridas, a criação do PSI e o fomento a atividade são um caso de paixão. Não tenho os cavalos como negócio, mas acredito no potencial da atividade e há mais de uma década como dirigente do turfe (Presidente do JCRGS, vice-presidente da ABCPCC, coordenador do GT do Turfe e Presidente da Câmara de Equideocultura do MAPA) tenho me empenhado no sentido da revitalização da atividade. Os meus investimentos pessoais têm como objetivo render vitórias, lágrimas, momentos de prazer e emoção. O final de semana com a família e os cavalos no haras representam muito para mim.
Quais são melhores cavalos que já viu correr?
FOF: Itajara, Sandpit, Much Better, Siphon, Clackson, Glória de Campeão, Quari Bravo, Pico Central e Redattore. Acho que o Plenty Of Kicks pode se juntar a este grupo. No sul, o Zirbo, o Hiper Gênio e o Garve. Também assisti a vitória do Hurricane Run no Arco do Triunfo.
Melhores éguas?
FOF: Immensity, Donética, Riboletta, Sweet Eternity, Coray e Virginie. No sul a Valione.
Cavalo/égua mais bonito que já viu?
FOF: Na infância tive a fase dos ruanos. Achava lindo o Taperão. Depois vieram os tordilhos: Valione, Orpheus (soltei foguetes quando ele ganhou o Brasil) e a Estrela do Turfe (essa eu comprei). Hoje eu elegeria o reprodutor Public Purse e o filho dele que tenho em atuação no Cristal que se chama Herói Fon. Outro cavalo lindo que tive foi o Mahler.
Melhor cavalo de sua propriedade e/ou criação?
FOF: O Amor Eterno me deu em sociedade com o Ministro Cirne Lima o “Bento Gonçalves”, o Mucho Dinero o “Protetora do Turfe”, mas os responsáveis pelo meu entusiasmo pelo turfe e que desencadearam a criação do Casablanca e a retomada do Capela de Santana foram o Guerreiro King e o Vício Sagrado. A geração “H” do Haras Capela de Santana (hoje com três anos) tem me dado muita alegria. De um total de dez são cinco ganhadores clássicos (Hermano Lô hoje no Uruguai, a Huellas de Arena na Gávea, e a Honfleur, Hastapopoulos e Herói Fon ainda no Cristal).
Quais jóqueis fazem a diferença?
FOF: Jorge Ricardo, Tiago Pereira, Altair Domingos, Luiz e Dalto Duarte e Carlos Lavor fazem a diferença. O C. A. Vigil, hoje no Uruguai, e que ganhou oito ou nove estatísticas no Cristal fez por algum tempo a diferença para obtenção das vitórias do Casablanca em Porto Alegre.
E quais os melhores treinadores em sua opinião?
FOF: O Hermínio Machado e o Leo Cury são meus treinadores desde 1996 e são do primeiro time. Estamos muito bem servidos neste quesito. Cometendo várias injustiças pela não referência cito Guignoni, Nahid, Renato Lopes, Sampaio, Solanez, Cosminho, Gozik, Tolú e Walter Lopes.
Melhores garanhões da atualidade no turfe nacional?
FOF: Há dez anos alguém poderia supor que Elusive Quality, Sinddar, Peintre Celebre, Refuse To Bend, Northen Afleet, Royal Academy, Manduro, Shirocco, Vettori, Macho Uno e Point Given serviriam no Brasil? É um time do primeiro time mundial. A eles se somam o Crimson Tide, Public Purse, Put It Back, Wild Event e Christine’s Outlaw. Estamos muito bem servidos de reprodutores.
Melhores reprodutores da história do turfe brasileiro?
FOF: Na minha opinião os melhores são estes que serviram na última década, mas em uma perspectiva histórica tenho que citar o Burpham, por ser o pai do melhor cavalo brasileiro de todos os tempos – Farwell -, Ghadeer, Waldmeister, Jules, Clackson (o nosso mais importante garanhão nacional), Locris, Felício e Roi Normand
O que espera do turfe brasileiro nos próximos anos?
FOF: Espero que os cavalos brasileiros sigam vencendo provas graduadas em todos os continentes, que os criadores continuem investindo na melhora de suas matrizes e na qualificação dos reprodutores, e que as entidades promotoras de corridas consigam reverter o atual quadro fortalecendo o turfe nacional e criando um mercado interno consumidor de cavalos de corrida.
Seu momento inesquecível no turfe?
FOF: O hipódromo da Gávea lotado no GP Brasil de 1998 que teve a vitória do Quari Bravo, o triunfo do Garve no Bento Gonçalves que parou a cidade de Porto Alegre em 1979 (época em que os carros paravam na Icaraí e as corridas eram assistidas pelo alambrado), a trifeta Immensity, Kigrandi e Kenético no Pellegrini, e na semana passada na Gávea o coroamento de dois tríplices coroados no mesmo dia.
Algum páreo marcante?
FOF: O Clássico Oswaldo Aranha – o primeiro reservado para a nova geração de potrancas do Cristal -, disputado em 2011, quando ocupamos os três primeiros lugares com Honfleur, Huellas de Arena e Horcrux. Eu parecia uma criança berrando que precisava de ajuda para segurar as três na fotografia. Outro páreo marcante foi o que nos deu a estatística de criadores na temporada passada no Cristal. Entramos na última reunião três vitórias atrás do primeiro colocado e com quatro inscrições. Na primeira perdemos o GP Taça de Cristal das fêmeas no detalhe. Faltavam três corridas e não poderíamos perder nenhuma. O Hermano Lô venceu o GP Taça de Cristal dos machos, o Grecco Sim uma prova especial e no último páreo da temporada tínhamos a Grécia Azul, força intermediária enquanto a favorita da prova era do adversário. A Grécia Azul, contando com direção decisiva do M. B. Costa, venceu a corrida e nos deu a estatística. Foi um momento maravilhoso e inesquecível.
Qual foi sua maior tristeza com cavalos?
FOF: Sempre tive e ainda acalento o sonho de vencer a tríplice coroa gaúcha. Com o Duque di Lorenzo venci as duas primeiras e perdi o Derby. No ano passado o Grecco Sim ganhou as duas primeiras e chegou ao Derby como franco favorito. Depois de ter se envolvido em uma luta suicida pela primeira colocação perdeu o GP no último pulo. Foi um momento de muita tristeza. Outro episódio foi a fratura que o cavalo Starburst teve na raia, tendo que ser sacrificado. Ganhador de 21 corridas, sendo quatro clássicas, era o queridinho da família. Não deu para segurar as lágrimas.
O que você diria para um novo proprietário que está começando a investir em cavalos de corrida?
FOF: Que ele tenha a certeza que está investindo em um produto com emoção garantida. Aconselho também que busque a orientação com proprietários antigos e que escolha bem os profissionais que ficarão responsáveis pelos seus cavalos. Na ABCPCC estamos disponibilizando, sob a coordenação do Ricardo Ravagnani, um serviço de apoio aos novos proprietários.
Por Celson Afonso e Fernando Lopes
Fotos: Gerson Martins, João Cotta, Divulgação JCRGS e Internet