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Entrevista: Paulo Gama sem censura

paulo gama (3)Como jornalista, dispensa comentários. Como agente de montarias, as suas conquistas falam por si. E como turfista? Isso aí, deixaremos o próprio responder. Paulo Gama, 57 anos, mais de 30 como referência no turfe nacional, sempre com seus textos e argumentos, às vezes polêmico, é verdade, mas sempre em prol do mais do que nobre Esporte dos Reis. Os que o conhecem pessoalmente garantem que de polêmico ele não tem nada. É um sujeito doce e que ama o que faz, principalmente porque está sempre envolvido com a sua maior paixão, o turfe. 

– Eu amo o turfe, me dá muito prazer em vir pra cá, em fazer tudo o que faço. Por isso que quando vejo algo que não está certo, eu falo mesmo. Sendo assim, fico decepcionado demais, pois sei que sempre dá para fazer melhor do que está sendo feito – disse.

 O site do JCB passou mais de uma hora com este grande turfista que não teve papas na língua. E poderia ter passado mais, tamanha a quantidade de histórias que ele tinha para contar. Enriquece o saber de todos, sendo turfista ou não. Paulo Gama falou um pouco sobre a sua história, a falta de ídolos no nosso esporte e ideias para que o turfe volte a ter o destaque que merece. Esperançoso com a nova diretoria do Jockey Club Brasileiro, o jornalista deixa claro que os gestores precisam de tempo para trabalhar e da união de todos, mas faz um lembrete importante: para mudar, será preciso ousar.

 – Temos de aguardar, esta diretoria chegou agora, o presidente entrou agora. Acredito que estamos em um momento que dependemos de todo o mundo. O país está numa crise complicada, nenhum lugar está tão bom e o Jockey não é diferente do resto do país. Então, temos de fazer as coisas fluírem, tem de ser ousado, precisamos ousar para mudar. O problema é que aqui tudo é muito conservador. Precisamos de alguém que venha para ousar, que pense grande, valorize o que temos. – revelou.

 Confira a entrevista completa com Paulo Gama 

INÍCIO NO JORNALISMO
Eu comecei a trabalhar em turfe oficialmente em 1982, no Jornal do Brasil. E foi uma coisa que aconteceu por acaso.  Eu me formei e no último semestre na faculdade eu já estava com um emprego garantido em Brasília, no Ministério da Fazenda. Até então não tinha nada de turfe. Eu era turfista de arquibancada, não tinha nada a ver com profissional. Eu era frequentador do Jockey desde dez anos antes.
 
INÍCIO NA COBERTURA DE TURFE
Meu pai ficou doente, com uma doença rara e que não tinha cura. Eu voltei de Brasília para ficarpaulo gama (2) com a minha mãe, minha família. Neste período, comecei a ir nas redações para procurar serviço. Cheguei na redação do “O Globo” e encontrei o Paulo César Vasconcelos, hoje chefe de reportagem do canal Sportv. Nós fomos amigos de faculdade. Ele comentou com o Cláudio Melo e Souza, editor de lá, que eu sabia tudo de corridas, tinha talento. O editor disse que na área do turfe não tinha vaga pois tinham outros grandes jornalistas no lugar, mas me falou para deixar os dados com ele e que qualquer coisa me ligava. E aí eu fui embora. Me ligaram logo depois dizendo que tinha uma vaga para mim no “Jornal do Brasil”. Fiquei no JB de 1982 até 1984, que foi quando eu virei contratado do jornal. Fiquei até 2001. Neste espaço de tempo ganhei vários prêmios de jornalismo do Jockey. Nesta época aqui se fazia concurso para escolher a melhor cobertura, melhor matéria…foi uma fase bem legal. 
 
HISTÓRIA COMO AGENTE DE MONTARIAS
Eu comecei com o agenciamento em 1997. Ele surgiu da seguinte forma: veio um jóquei lá de São Paulo, o L. Duarte, que já tinha ganhado seis vezes as estatísticas de Cidade Jardim. Ele era um cara muito introvertido. Montava muito pouco perto da qualidade dele. Esse L. Duarte tinha um amigo, que vinha me espionar, mas eu não sabia. O cara ficava na tribuna sentado me observando. Vendo o meu acesso aos treinadores, proprietários e turfistas. Esse cara ficou seis meses me espionando. O L. Duarte me chamou depois disso e falou que era um bom jóquei e que queria que eu fosse o seu agente.  Aqui ainda não tinha isso, nos EUA já tinha, na África do Sul e em tudo quanto era lugar. Na época, combinamos uma porcentagem de acordo com as colocações.
 
Ricardinho200AMIGO RICARDINHO 
Na época que eu comecei a trabalhar com o L. Duarte, o Ricardinho que era meu amigo, ficou meio chateado. Disse que eu seria seu rival, que eu estaria trabalhando contra ele. Poxa! Eu estava trabalhando para mim, era uma boa oportunidade profissional. Este período foi antes de ele ir para a Argentina. Ele me chamou para ir pra lá, mas na época a minha mãe estava doente, não tinha quem cuidasse, além de ter uma irmã, que é excepcional. Foi um período muito ruim. Poderia ter sido antes, ou poderia ter sido depois, mas foi justamente em um momento que eu não poderia ir. Comecei a trabalhar com ele, inclusive, incentivado pelo titular do Stud TNT. Foi uma época muito boa e vitoriosa.
PARCERIA VITORIOSA COM V.BORGES 
 Teve um período que fui para a TV do Jockey para ser comentarista. O presidente do Jockey naquela VBorgesépoca não concordava que o agente fosse comentarista, pois, segundo ele, havia um conflito de interesses. Fiquei dois anos como comentarista e parei. Quando saí desta função, voltei imediatamente a trabalhar. Me tornei supervisor de um Stud. Ele me pediu para contratar um jóquei e foi aí que comecei a trabalhar com o V. Borges. Foi uma grande fase. Comecei com ele aprendiz. No primeiro ano ele foi terceiro e no segundo ano já ganhou as estatísticas. No espaço de tempo que eu trabalhei com ele, além de ganhar três estatísticas, ganhou também o GP Brasil, dois Derbys e uma tríplice-coroa. Tirando o Ricardinho, que ganhei tudo o que você possa imaginar, o V. Borges foi espetacular, uma fase que eu guardo com carinho.
 
W.BLANDI ATUAL AGENCIADO
Hoje estou com o Waldomiro Blandi. Estou muito satisfeito deblandi trabalhar com ele, pois é um cara  muito profissional. Muito sério, comprometido, correto, organizado…Eu considero o resultado que ele tem conquistado, muito bom. Os outros estão montando desde julho de 2015 e ele chegou aqui em dezembro. Estamos bem próximos do nono e do décimo, temos possibilidades de conseguir ficar entre os dez, inclusive ele deu uma entrevista para vocês dizendo isso. E no segundo ano ficar entre os cinco. Eu cheguei até a recusar outros jóqueis, pois estou muito satisfeito em trabalhar com ele. É um cara que quando procuro eu encontro, é fácil lidar com ele. Quando sai do matinal, ele me diz com quem trabalhou, para quem trabalhou.Tem jóqueis que te dão muito trabalho.  Temos algo incomum, que é o gosto pelo trabalho. Era assim com o Ricardinho…somos verdadeiros tarados pelo trabalho.
 
 DIRETORIA NOVA
Temos de aguardar, esta diretoria chegou agora, o presidente entrou agora. Acredito que estamos em um momento que dependemos de todo o mundo. O país está numa crise complicada, nenhum lugar está tão bom e o Jockey não é diferente do resto do país. Então, temos de fazer as coisas fluírem, tem de ser ousado, mas também tem que ter os pés no chão. O problema é que aqui tudo muito conservador. Precisamos de alguém que venha para ousar, que pensem grande, valorizem o que tem.
 
MELHORIAS NO JOCKEY CLUB BRASILEIRO
O Jockey tem que melhorar como um todo, tem que melhorar o acesso a mídia, tem de flertar melhor com a mídia. Deveria ter uma assessoria de imprensa que informasse tudo que se passa aqui dentro. Isso aqui é muito fechado, ele pertence a uma classe social alta, são pessoas que não estão acostumadas com exposição, popularidade. Estão acostumadas a serem mais discretas. O Jockey é quase um feudo e isso não funciona nos dias de hoje, nessa era da informação. Você tem que vender o seu produto.  Então, a primeira coisa que se deve fazer: trazer mais a mídia e a segunda tão importante quanto, é rejuvenescer isso aqui. Não podemos chegar em um lugar onde só tem gente de cabelos brancos. Um cara com a minha idade, 57 anos, é novo para cá. Mas eu não sou novo em lugar nenhum. Se eu for em um jogo de vôlei, eu serei o coroa de lá. O Jockey tem que criar algo para trazer esses jovens. Aproveitar o Peão do Prado, como fazem na Argentina e no Chile. A mulher tem de vir aqui e ter um salão de beleza, um mini-shopping para fazer compras. Se ela vier aqui fazer o cabelo, o pé e a mão, já vai ficar umas três horas sem encher o saco! Precisamos trazer jovens e mulheres para o hipódromo. E ter um namoro mais íntimo com a mídia.
 
LHenrique post11LEANDRO HENRIQUE NOVO ÍDOLO
Tenho muita esperança nele. Se o JCB cuidasse dos seus ídolos, como outros esportes cuidam, o Leandro Henrique já deveria estar contando essa história em vários programas, uma matéria especial sobre a vida dele. Sobre a história de um aprendiz vencer as estatísticas, isso nunca teve na História do turfe. No meu tempo, aprendiz não montava nem páreo de grama. Ele lidera uma estatística, ele vai vencer. As pessoas não tem a dimensão do que é isso. Nosso esporte não tem memória, se isso estivesse acontecendo no futebol? É como aparecer um menino de 17 anos e virar artilheiro do Brasileiro com 20 gols de diferença. Ele seria capa de qualquer site esportivo. O L. Henrique é isso. Ninguém sabe essa história e para voltarmos a ocupar o nosso lugar, só depende de nós. Precisamos torcer para o L. Henrique não ir embora. Jovem, bom e carismático.  Acho que ele está sendo mal aproveitado. 
 
FESTIVAL DO GRANDE PRÊMIO BRASIL 2016
Temos um final de semana de muito bom nível, mesmo. O verdadeiro turfista deve estar no hipódromo e trazer a sua família. Venham namorar no Jockey, no Dia dos Namorados. Será um presente maravilhoso para as mulheres se a Daffy Girl ganhar, derrotar 13 cavalos. Minha torcida é para um dia bonito e vitória da Daffy Girl. A prova vai ser transmitida novamente e isso é muito bom. Somente cinco éguas ganharam o Brasil e ela pode ser a sexta. Acredito que será um grande momento para as mulheres se no Dia dos Namorados a Daffy Girl vencer a prova.
 
CASSINO NO JOCKEY
Sou a favor de tudo que é bom. Tenho certeza de que a PMU está aqui por conta do jogo. Buenos Aires é uma cidade muito bonita, mas não pode ter mais turismo do que o Rio de Janeiro. Corcovado, Pão de Açúcar, Vista Chinesa…Se você abre o jogo aqui, na primeira semana você atropela Buenos Aires e a consequência disso é a melhor possível. É uma bonita cidade, mas não se compara ao Rio de Janeiro.
 
NOVO FOCO DO RAIA LEVE
O Raia Leve está com uma nova postura de não ficar mais só em cima da politica. Ele quer focar mais em jóqueis, treinadores, cavalos…isso é uma decisão dos novos gestores do site. O que foi passado para nós é um novo momento, uma nova era, que não é mais ficar apontando defeito sem criticar demais.

 Por Emerson Silva e Sylvio Rondinelli Fotos: Sylvio Rondinelli e Arquivo

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